Convento da Arrábida
Lisboa | Setúbal
Convento da Arrábida
O Convento da Arrábida situa-se num lugar alto e silvestre, entre a terra e o mar, na encosta sul Serra da Arrábida. Do outro lado da Serra está Azeitão, de onde se acede ao convento por uma estrada velha. A primeira referência a uma construção religiosa registada na zona do convento data de 1250, a qual refere a construção de uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Arrábida. O atual convento remonta a 1539 – 1542 e foi patrocinado por D. João de Lencastre, primeiro Duque de Aveiro, que entrega a construção de um convento de ordem franciscana na Serra da Arrábida e o doa a Frei Martinho. Frei Martinho, juntamente com outros dois eremitas, procuraram na serra o local ideal para a sua vida de oração e frugalidade e elegem o local da antiga ermida de Nossa Senhora da Arrábida para o efeito. A construção do Convento prolonga-se até ao século XVII, com a construção do Santuário do Bom Jesus em 1650, posteriormente reedificado em 1729. Em 1834, com a extinção das ordens religiosas os frades abandonam o convento, que em 1863 é comprado pelos duques de Palmela. Em 1990 o convento é comprado pela Fundação do Oriente e adaptado para fins culturais.
A primeira descrição do convento data de 1728 e assemelha-se bastante ao que vemos hoje em dia a partir da estrada da serra. Destaca-se a grande chaminé cónica, um terraço com uma latada e as celas embutidas na serra, cuja única geometria é aquela que lhes é concedida pelos telhados direitos, cor de tijolo. “A entrada na cerca é feita por um portão de ferro, num pequeno desvio da estrada. O caminho que vem desde o portão da entrada até à zona edificada do convento passa pelo portão do Santuário do Bom Jesus, à esquerda fletindo depois à direita até ao largo de entrada no convento. Neste largo encontra-se em posição elevada a estátua de São Pedro de Alcântara, ajoelhado defronte da cruz. A passagem estreita conduz até ao átrio da igreja passando pela estátua de Santa Maria Madalena, voltada de costas para o exterior […]. Ao lado da porta de ferro da Igreja permanece uma estátua de Frei Martinho de Santa Maria com os braços em cruz e os pés a esmagar uma serpente (demónio), assente num globo. Passando por dentro da igreja é possível aceder ao jardim de São Pedro de Alcântara, junto à capela de Nossa Senhora da Piedade. Pelo jardim e através de uma escadaria de pedra tosca, alcança-se a esplanada do refeitório de onde se obtêm vistas singulares. […]” (monumentos.pt)
O convento é uma marca humana na paisagem, construída ao longo dos séculos, cela a cela, terraço a terraço. Cada ermitão ou frade construía o seu altar de oração e o seu lugar de abrigo. O convento é um ponto de oração na Serra da Arrábida. A cerca inclui dentro dos seus muros três áreas definidas por três intervalos altimétricos com diferentes ocupações. A zona mais alta e declivosa está revestida por mata autóctone onde existem caminhos de ligação entre as várias edificações e terraços. A Noroeste desta área situa-se a cela de Frei Agostinho da Cruz, numa zona de clareira de onde se pode avistar toda a cerca. Num segundo intervalo já menos declivoso foram construídas a maior parte das edificações. Este espaço encontra-se dividido cinco patamares que incluem a Rua do Relógio, o Terreiro de Santiago, o patamar da esplanada e do refeitório com grandes vistas em terraços sobre mar, o patamar do Jardim de São Pedro de Alcântara que inclui o adro e o Terreiro da casa dos alguidares, e por último, o patamar da rua de acesso à horta. O terceiro intervalo altimétrico, de declive menos acentuado é constituído pela zona agrícola da quinta estruturada em três socalcos suportados por muros e ligados por escadas.
De um ponto de vista paisagístico destaca-se o Jardim de Santiago onde podemos encontrar buxos altos e muito antigos com canteiros cortados por pavimentos de calhau rolado. É decorado por namoradeiras de onde se pode gozar uma expendida vista sobre o mar, subindo acede-se a um terraço pequeno de paredes irregulares, pintadas de cal de onde sai um rochedo que pertence à Serra e ficou incorporado no espaço construído pelos frades. Na Rua do Relógio encontramos uns canteiros pequenos e curiosos escavados na rocha onde os frades cultivavam plantas medicinais abrigadas dos ventos do mar. Este foi um lugar escolhido pelas suas nascentes, embutido na forma côncava de um vale que desce até ao mar. Toda a água que cai nos terraços e telhados é recuperada para uma cisterna, mas a verdadeira fonte, que nunca seca, encontra-se por baixo da capela: a fonte da Samaritana com uma pequena figura feminina em barro carregando um cântaro na anca. A localização do convento deve-se à presença destas nascentes que permitiram a instalação da comunidade.
Classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1 / Incluído no Parque Natural da Arrábida.
Texto de Inventário: Luísa Correia – 2015
Adaptação: Guida Carvalho – 2019
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2019
inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA
Convento da Arrábida
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. pp. 103-104.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edições Inapa, 2002. pp. 120-125.
CASTEL-BRANCO, Cristina - Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014, pp. 206-207.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I. Lisboa [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. pp. 684-686.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J58&qid=sdx_q26
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=23059
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74296