Parque Terra Nostra
Açores | Povoação
Parque Terra Nostra
A história do Parque Terra Nostra está intimamente ligada à evolução da aldeia das Furnas como centro termal e estância de veraneio. Por volta de 1782, Thomas Hickling (natural de Boston e residente em Ponta Delgada) comprou uma propriedade com cerca de 1,6 hectares nas Furnas e construiu uma casa simples que ficou conhecida por Yankee Hall, usando-a como casa de férias até à data da sua morte em 1834. Em frente à casa construiu um grande tanque de recreio com uma ilha no meio, onde costumava passear de barco e pescar, e em volta um pequeno bosque. Hickling transformou o seu jardim praticamente num parque público. Segundo Isabel Albergaria (1) os hábitos hospitaleiros de Hickling vêm na linha do pensamento de uma América democrática, evocando espaços comuns como o Boston Common: os visitantes que chegavam às Furnas para ver a lagoa e as nascentes de água quente eram acolhidos em casa de Hickling e vinham remar e pescar no tanque. Em 1848, a propriedade foi comprada pelo Visconde da Praia, que construiu a atual casa do Parque, em 1854, no lugar da Yankee Hall. O parque foi significativamente ampliado e introduzidas numerosas espécies exóticas, entre as quais o anel de araucárias em redor do tanque. Em 1896 o filho dos viscondes, o marquês da Praia e Monforte, erigiu um memorial aos pais que se encontra no jardim. Depois da morte do Visconde, em 1872, o filho contratou um jardineiro inglês de nome Milton responsável pelo desenho da serpentina de água e dos grottoes. O terreno adjacente estava dividido em pequenas parcelas, com muitos donos, o que tornou moroso o processo de aquisição de terras para o jardim, cuja ampliação continuou até 1890. Nos finais do séc. XIX o traçado do jardim aproximava-se muito do actual: o obelisco, a Avenida de Palmeiras, o templete neoclássico, as pontes, varandins, vasos e crateras; novas espécies oriundas da América do Norte, da Austrália, da Nova Zelândia, da China e da África do Sul foram plantadas, algumas das quais ainda existem e dominam certas áreas do parque. Em Setembro de 1936 a propriedade foi adquirida pelos atuais proprietários, a família Bensaúde. Um novo jardineiro, John McInroy, restaurou o jardim plantando novas árvores incluindo a avenida de Ginkgo biloba e um novo tanque. O famoso tanque onde se podia remar no século XVIII foi aumentado e é, ainda hoje, alimentado por água termal, mantendo o acesso público. Mais recentemente outras intervenções têm sido realizadas, especificamente a criação de jardins temáticos sob a orientação do jardineiro chefe Fernando Costa (Albergaria, 2005, 2001). (1) A maior parte do trabalho de pesquisa histórica sobre estes jardins e os do resto das ilhas deve-se a Isabel Albergaria, no âmbito da sua tese de mestrado na Universidade Nova de Lisboa. Tendo em conta a fisiografia o parque divide-se em duas zonas: a parte alta, com alamedas e bosques densos e a parte baixa, entre a Ribeira Amarela e a serpentina de água onde se desenham os passeios, relvados, tanques e fontes. O carácter destas duas zonas é distinto, prevalecendo um tratamento mais livre na zona alta e mais formal na zona baixa. A rede de percursos integra traçados em curvas, periféricos e as duas grandes alamedas: a “Alameda das Palmeiras” (uma das principais artérias do parque, orientada para o largo da Memória onde se localiza um obelisco) e a “Alameda das Ginkgo biloba”, com cerca de 300m de comprimento. A concepção do jardim é ao estilo clássico do paisagismo inglês, existindo alguns grottoes que enquadram a vegetação exótica. Os jardins temáticos, localizados nos antigos quartéis da antiga quinta, englobam o jardim das Cycas (colecção com 55 espécies de Cycadaceae), o jardim das endémicas (flora indígena e endémica dos Açores), o jardim das flores (tabuleiros de flores anuais e herbáceas permanentes), jardim das camélias e o jardim dos fetos (com cerca de 140 espécies e variedades de fetos arbóreos e herbáceos) (Albergaria, 2005).
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