Jardim Pitoresco

Açores | Ponta Delgada

Jardim Pitoresco

António Borges da Câmara Medeiros (1812-1879), grande proprietário e colecionador de pintura, começa a interessar-se pelas Sete Cidades por volta de 1850, aquando da compra de grandes extensões de terreno que haviam pertencido maioritariamente ao Convento da Esperança. Durante o ano de 1853, António Borges viajou pelas principais capitais europeias, tendo reunido milhares de espécies exóticas com a ajuda do jardineiro e horticultor belga François Joseph Devander Gabriel, com as quais plantou as encostas de pinheiros, faias, amieiros, criptomérias, álamos e plátanos, construindo entre as margens da lagoa que serve de cenário natural, as longas alamedas arborizadas de um extenso parque. As principais plantações ficariam concluídas em 1855, com espécies principalmente oriundas da Austrália e da Nova Zelândia. A partir do final da década de 1870, as Sete Cidades sofreram sucessivas cheias, agravadas pela falta de escoamento para as águas pluviais que enchiam a lagoa. Este desastre teve consequências nefastas para o parque. Só em finais da década de 1930, com a abertura de um túnel de escoamento, o parque é recuperado. Além de algumas árvores de grande porte sobreviventes, uma parte significativa das plantações hoje existentes datam desse periodo e deveram-se a Caetano de Andrade Albuquerque Bettencourt (1913-1982), permitino que a marca de um jardim na lagoa das Sete Cidades nunca desaparecesse (Albergaria, 2005). As plantações existentes ao longo da margem Sudoeste da Lagoa Azul resultam de várias campanhas ao longo dos séculos XIX e XX. Túneis de camélias, plátanos de tronco direito e metrosideros de troncos dobrados, valorizados pela beleza do tom azul da lagoa, podem observar-se ao longo das margens. Uma extensa alameda de camélias limitada pelo lago numa das vertentes exibe uma coleção de diferentes cultivares antigos, quase todas de origem italiana: Francesco Ferruccio, Contessa Lavinia Maggi, Mutabilis Trasversi, Garafola, Ignea, Zwethii Vera; assim como outras de flor branca: Mathotiana Alba e Alba Lucina. Toda a superfície que envolve o lago das Sete Cidades é muito humanizada, tanto pela presença da aldeia tal como pelas intervenções feitas a nível das plantações de florestas e jardins, ou ainda pela presença de terrenos cultivados e de pastoreio no interior da bacia hidrográfica. Neste local, a relação entre natureza e cultura assume um papel estético essencial na definição da paisagem, isto porque se trata de uma paisagem protegida. Logo à entrada da aldeia, na zona de transição entre a Lagoa Verde e a Lagoa Azul, ergue-se uma casa que se destaca das restantes pela sua grandeza e sofisticação, envolvida por plátanos e azáleas, num jardim com um traçado geométrico. É a antiga casa de António Borges, o principal interveniente na transformação da paisagem das Sete Cidades. Apesar das alterações a que tem sido sujeito, o jardim mantém o carácter de fruição contemplativa idealizado pelo seu mentor. Posteriormente ao Serrado das Freiras encontra-se, num retiro escondido, uma vasta superfície de piquenique envolta de árvores dispersas, que descem até ao limite do plano de água e que permitem a passagem de um espaço mais fechado e intimista para o espaço aberto, amplo e luminoso do lago. As espécies provêm sobretudo da Austrália e da Nova Zelândia: Banksia integrifolia, metrosideros, melaleucas, eucaliptos, Clethra quercifolia, Olea emarginata; entre as coníferas destacam-se os ciprestes (Cupressus sp.) e as criptomérias (Cryptomeria japonica) (Albergaria, 2012).

inserido na ROTA DOS AÇORES

Jardim Pitoresco

Rua dos Xailes Negros, 9555-196 SETE CIDADES