Quinta dos Cónegos
Norte | Maia
Quinta dos Cónegos
A Quinta dos Cónegos localiza-se na cidade da Maia, na antiga freguesia de Barreiros, na margem direita do rio Leça e muito próxima dele, ocupando uma área de cerca de 4 hectares.
De fundação antiga, pertencia, em 1642, a Gaspar de Andrade de Macedo, escrivão da Relação do Porto. Teria, então, uma dimensão considerável, ocupando terrenos de um e outro lado do rio, sendo composta por casas sobradadas, capela, lojas, bouças e campos agrícolas, nomeadamente vinhas. Junto ao rio existiriam construções de apoio à atividade agrícola, nomeadamente um moinho negreiro e azenhas.
A quinta manteve-se na posse da família de Gaspar de Macedo pertencendo, mais tarde, a seu neto José de Gouveia de Andrade, casado com Joana Maria Souzedo. Seus filhos António do Rosário Gouveia e José de Gouveia e Aragão eram cónegos da Sé do Porto quando, na primeira metade do século XVIII, Nicolau Nasoni trabalhava nas obras de renovação da catedral, o que explicará, por um lado, a designação que a quinta tomou e, por outro, o presumível envolvimento de Nasoni no embelezamento da quinta de Barreiros.
De facto, na quinta há elementos arquitetónicos e escultóricos atribuídos, por Robert Smith, a Nicolau Nasoni, nomeadamente a fonte que ostenta um dragão alado. Outras fontes e tanques são-lhe igualmente atribuídos, nomeadamente pela sua similaridade com estruturas da vizinha Quinta do Chantre, onde este arquiteto terá trabalhado.
A quinta foi legada a Francisco Andrade de Aragão, irmão dos cónegos, que aí viria a falecer em 1755, sem descendentes, passando a quinta à posse do irmão, cónego António do Rosário Gouveia. Pela morte deste passa a propriedade para seu primo Bernardo Pinheiro de Aragão Souzedo, também ele irmão de dois cónegos da Sé do Porto, João e Manuel Pinheiro de Aragão que terão também usufruído da quinta. Para além da casa, a que presumivelmente se associaria um jardim de buxo e flores, na quinta eram, então, abundantes as árvores de fruto, ramadas e água de minas, as fontes e os tanques.
Já na primeira metade do século XX, a quinta é adquirida por Afonso Sobral Mendes sendo, posteriormente, legada a seu filho João Sobral Mendes que nela realizaram intervenções significativas. Em 1991, a casa é destruída por um incêndio, tendo a capela apenas sofrido danos menores. A quinta é, então, adquirida pela Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, que procede à sua reconstrução. Em 2017 é comprada pela Câmara Municipal da Maia para usufruto púbico, enquanto espaço cultural e de recreio.
Acede-se à quinta através de um portal na rua do Souto, ornamentado por grandes folhas de acanto, que abre para um amplo terreiro enquadrado, a sul e nascente, pelos dois corpos da casa e capela. O terreiro acolhe, no seu centro, um espaço ajardinado, de forma quadrangular delimitado por balaustradas, canteiros de arbustos e flores e dupla escadaria onde encosta a fonte do dragão alado que jorra água para um pequeno espelho de água. Junto ao muro que separa o terreiro da rua do Souto podem observar-se duas árvores de grande porte e beleza: uma magnólia-de-flores-grandes e uma tília-prateada.
Atravessado um pequeno portão localizado junto à capela chega-se ao terraço que ladeia a casa pelo poente, dominado por um grande tanque de rega construído no século XX, e que poderá ter sido, anteriormente, um socalco ajardinado. Hoje, maioritariamente pavimentado, é rematado por um banco de granito com espaldar, emoldurado por camélias e hortênsias. Daqui acede-se a um conjunto de largos socalcos que se desenvolvem para sul da casa, antigos campos de cultivo hoje relvados e pontuados por vegetação arbórea e arbustiva.
Entre os socalcos, encontram-se caminhos cobertos por ramadas, ornamentados por esculturas e ostentando fontes, destacando-se a fonte barroca de alto espaldar adossada ao muro do patamar superior, ladeada por dupla balaustrada. O tanque que recebe a água desta fonte foi, no século XX, transformado em piscina fazendo parte desta intervenção a construção do edifício de estilo neogótico que a ladeia, destinado a vestiário.
Para nascente, encontra-se um caminho que, ladeado por laranjeiras, conduz ao grande tanque. O conjunto setecentista, com cerca de 50 metros de comprimento, desenvolve-se em dois patamares. Através de duas escadarias acede-se ao primeiro, um pátio rodeado em três lados por altas paredes. Da carranca, na parede central encimada por frontão rematado por cruz, brota água que, correndo num canalete, alimenta um espelho de água quadrangular. Daqui, a água cai no longo tanque que constitui o segundo patamar. Bancos de granito, destinados ao repouso e à contemplação, acompanham este sistema de tanques.
A um nível inferior situa-se um portão a partir do qual se acedia ao rio e à encosta fonteira, armada em socalcos, em cujo topo se localizava uma guarita-miradouro com cúpula piramidal, entretanto desaparecida com a construção da linha do metro.
Inventário: Matilde Cerqueira Gomes, João Almeida e Teresa Portela Marques – abril de 2020.
inserido na ROTA DO GRANDE PORTO
Quinta dos Cónegos
(Consultada em abril de 2020)
ALVES, Daniela; BARBOSA, Hélder – Histórias e Memórias das Quintas da Freguesia da Maia. Maia: Fundação Gramaxo, 2016. pp. 50 - 61.
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. pp. 152 - 153.
http://www.visitmaia.pt/pages/14/?geo_article_id=89