Jardim Botânico do Porto / Casa Andresen / Quinta do Campo Alegre
Norte | Porto
Jardim Botânico do Porto / Casa Andresen / Quinta do Campo Alegre
O Jardim Botânico do Porto localiza-se na antiga Quinta do Campo Alegre, na União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, e ocupa uma área de, aproximadamente, 4 hectares.
As suas origens remontam ao início do século XIX, quando Jean Pierre Salabert, fabricante de ‘chapéus finos’ a terá fundado, através da aquisição de vários terrenos pertencentes à Comenda da Ordem de Cristo, no antigo lugar de Barreiros, em Lordelo do Ouro, passando, então, a ser conhecida por Quinta Grande ou Quinta do Salabert. Pelas suas associações com os ideais liberais e suspeição de envolvimento na conspiração de 1817, Salabert vê sua quinta ser-lhe confiscada pelo Estado. Em 1820 é vendida, em hasta pública, a João José da Costa, negociante do Porto. Em 1875, é adquirida por João da Silva Monteiro, que inicia a construção de um palacete e seu jardim. Em 1895, a quinta passa para a posse de João Henrique Andresen Júnior, comerciante de vinho do Porto, e de sua mulher, Joana Andresen, que concluem o projeto de renovação da casa e dos jardins. Muitos anos depois, os jardins serviriam de cenário para contos e poemas escritos pelos seus netos, Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruben A.
A quinta, então com a designação de Quinta do Campo Alegre, viria a ser adquirida pelo Estado em 1949, vindo a Universidade do Porto aí a instalar o Jardim Botânico em 1951. Entre 1952 e 1967, o Professor Américo Pires de Lima, com a colaboração do arquiteto paisagista alemão Karl Franz Koepp procedem à sua adaptação a jardim botânico, tirando partido do traçado e da vegetação existentes. Durante esse período, parte da quinta seria, no entanto, expropriada para garantir a construção de acessos à Ponte da Arrábida, ficando a sua área reduzida aos cerca de 4 hectares atuais. São conservados os jardins originais e na parte sobrante dos campos de cultivo e da mata são instalados novos jardins de plantas suculentas e de aquáticas e um arboreto.
Na sequência do seu estado de degradação, o jardim encerra ao público em 1983 e é reaberto em 2001, após um primeiro conjunto de intervenções destinadas à contenção dessa degradação, executadas ao abrigo de um protocolo celebrado com a Câmara Municipal do Porto. Em 2002, é elaborado um Estudo Prévio do Projeto de Recuperação, coordenado pela arquiteta paisagista Teresa Andresen, ao qual se segue, em 2004, um Anteprojeto de Conservação e Valorização, coordenado por Teresa Andresen e Teresa Marques. O Projeto de Execução viria a ser da autoria do arquiteto paisagista Manuel Ferreira (GEOPEIA). O Jardim encerra em 2006, tendo em vista a implementação deste projeto que envolveu uma série de obras de recuperação de, nomeadamente, redes de caminhos, rega, drenagem e eletricidade. Concluída a intervenção, o jardim é reaberto ao público em 2007.
Em 2011, iniciam-se as obras de recuperação do edifício, a Casa Andresen, com projeto de autoria do arquiteto Nuno Valentim e colaboração do arquiteto paisagista Paulo Marques, que desenha a bordadura mista dos canteiros em torno da casa a que se seguem outros projetos de recuperação, nomeadamente das estufas, liderados pela mesma equipa. Em 2017, é oficialmente inaugurada na Casa Andresen, a Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva. Em 2019, o Jardim Botânico é distinguido com o Green Flag Award e, em 2020, em reconhecimento do valor da sua coleção de camélias, com 266 cultivares e 753 exemplares, 616 dos quais formando cerca de 500 metros de sebes talhadas, é-lhe atribuído o galardão de International Camellia Garden of Excellence, pela ICS – International Camellia Society.
O acesso principal ao Jardim Botânico é feito por um elegante portão em ferro fundido na rua do Campo Alegre. Transposto o portão, acede-se a um terreiro que se desenvolve na frente da casa, e que se encontra ladeado por dois bosquetes com grande diversidade florística: o Bosquete dos Cedros, à esquerda, dominado por um conjunto de cedros e araucárias, e onde marcam também presença o teixo, o rododendro e a melaleuca-casca-de-papel; e o Bosquete da Araucária, à direita, marcado ao centro por uma araucária-de-Norfolk, acompanhada por bordos-do-Japão, sequoias-sempre-verdes, eugénias e azáleas. Ambos os bosquetes são rematados, junto ao muro, por uma fiada de camélias centenárias.
A poente da casa encontra-se um terceiro bosquete; o do liquidâmbar. Este espaço, rematado por uma sebe de camélias talhadas, é fortemente marcado pela presença de duas árvores grandiosas: um liquidâmbar — até há pouco um dos mais notáveis do Porto, e que seria seriamente fustigado por ventos fortes no outono/inverno de 2018, responsáveis pela perda de uma parte substancial da sua, então, magnífica copa — e um carvalho-alvarinho, em cujas sombras crescem uma palmeira-de-leque-da-China e rododendros de várias espécies. A nascente da casa, rodeado por tulipeiros e camélias, bordos-do-Japão, metrosíderos e aveleiras, encontra-se o “Rapaz de Bronze” associado ao conto de Sophia; uma figura feminina em ferro fundido, com repuxo de água, ocupando o centro de um lago circular. Ladeando o jardim para nascente, e agora evocando o livro A Floresta de Sophia, encontra-se o recentemente designado Jardim dos Anões.
A sul da casa encontram-se os jardins formais da antiga Quinta do Campo Alegre: o Jardim do Peixe, o Roseiral e o Jardim dos Jotas, acessíveis através de “portas” abertas nos topos das altas sebes de camélias talhadas que os rodeiam. O Jardim do Peixe deve o seu nome à forma de “peixe” desenhado pelos seus caminhos e canteiros delimitados por sebes de buxo, pontuados por ciprestes e citrinos. No Jardim dos Jotas, são os canteiros bordejados a buxo em forma de “J”, evocando as iniciais de João e Joana Andresen, antigos proprietários da quinta. Um banco revestido a azulejos com desenhos de camélias, coberto por um caramanchão de glicínias remata este jardim a norte. Entre estes dois jardins encontra-se o Roseiral, alinhado com a casa. Exibe ao centro um tanque circular, rodeado por canteiros bordejados por sebes baixas de buxo, nos quais se encontram roseiras, lírios, alfazemas e helicriso. Os quatro cantos do Roseiral são ainda pontuados por ciprestes.
Para nascente do Jardim do Peixe encontra-se o Jardim do Xisto, projetado por Franz Koepp, marcado ao centro por um conjunto de lagos circulares contendo plantas aquáticas. O espaço é rematado a norte por uma pérgula e a sul por um grande carvalho-alvarinho ensombrando um banco encastrado nos muros de xisto que rodeiam o jardim. Acompanhando o carvalho-alvarinho encontra-se um medronheiro-do-Texas, que se encontra em vias de classificação.
Descendo por uma escada, a poente do Jardim dos Jotas, acede-se a um segundo patamar do jardim, onde se encontram as estufas antigas, o Jardim dos Catos, exibindo uma notável coleção destas plantas, a estufa tropical e a estufa desértica, interligadas e também desenhadas por Koepp.
Ocupando um terceiro patamar, desenvolvendo-se a sul dos anteriores e ocupando cerca de metade da área do jardim encontra-se o Arboreto. Cruzado por uma rede de caminhos curvilíneos e densamente arborizado, nele se podem encontrar muitas das centenas de espécies presentes no Jardim Botânico, destacando-se alguns agrupamentos mais característicos, como por exemplo o núcleo de palmeiras, a clareira dos plátanos, o bosque de coníferas e o núcleo temperado, dominado por um conjunto de notáveis carpas-europeias e sobreiros monumentais. Na secção poente do Arboreto, na envolvente do tanque e do lago dos nenúfares, encontra-se ainda um distinto conjunto de biscófias, em vias de classificação, acompanhado por fetos-arbóreos, um massivo eucalipto, uma notável sequoia-sempre-verde, a maior e mais alta do jardim, e um admirável grupo de ginkos.
Arvoredo de Interesse Público em Vias de Classificação
Biscófia, cedro-de-java (Bischofia javanica Blume)
Nº Processo: KNJ5/862
Entrada do requerimento: 08-04-2015
Medronheiro-do-Texas (Arbutus xalapensis Kunth)
Inventário: Matilde Cerqueira Gomes, João Almeida e Teresa Portela Marques – maio de 2020.
inserido na ROTA DO GRANDE PORTO
Jardim Botânico do Porto / Casa Andresen / Quinta do Campo Alegre
(Consultada em maio de 2020)
ANDRESEN, Teresa; MARQUES, Teresa Portela – Jardins Históricos do Porto. Lisboa: Edições Inapa, 2001. pp. 73-76.
ANDRESEN, Teresa; ANTUNES, Ana Catarina – Jardim Botânico do Porto – 150 anos de Culto pelas Plantas. Porto: Arte e Ciência, 2018.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. [S.l.]: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 58-61.
LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo. Lisboa: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia. Abril de 1998. Vol. I.
MARQUES, Paulo Farinha – Paisagem, Habitats e Plantas. In: Jardim Botânico do Porto – 150 anos de Culto pelas Plantas. Porto: Arte e Ciência, 2018. pp. 343-367.
MARQUES, Teresa Portela – A Quinta do Campo Alegre. In: Jardim Botânico do Porto – 150 anos de Culto pelas Plantas. Porto: Arte e Ciência, 2018. pp. 27-73.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=21770
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5537
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PRIEJP_Porto&c=PRIEJP_Porto_J7&qid=sdx_q16
http://sitios.amp.pt/sitios-amp/sitio/8
https://jardimbotanico.up.pt/
http://www2.icnf.pt/portal/florestas/aip
https://internationalcamellia.org/botanical-garden-of-porto