Jardim da Cordoaria / Jardim João Chagas

Norte | Porto

Jardim da Cordoaria / Jardim João Chagas

O Jardim da Cordoaria, ou Jardim de João Chagas, ocupa uma área de, aproximadamente, 2 hectares, no centro histórico do Porto, rodeado por um conjunto de edifícios de carácter monumental de entre os quais se destacam a Torre dos Clérigos, Monumento Nacional desde 1910, o Tribunal da Relação e Cadeia do Porto, Imóvel de Interesse Público desde 1933, o Hospital Geral de Santo António, Monumento Nacional desde 1910, e o edifício sede da Universidade do Porto.

O jardim está implantado no antigo Campo do Olival, junto à Porta do Olival da muralha gótica da cidade, cujos terrenos foram adquiridos à Igreja, em 1331, pelo Conselho da Cidade com o objetivo de serem transformados em espaço público. Em 1611, por ordem de Filipe II aí foi construída a primeira alameda da cidade para o passeio público que ficará conhecida como Alameda do Olival. Apesar de existir já em 1531 uma cordoaria no local — a do Bispo — seria a transferência, em 1661, dos cordoeiros de Miragaia e instalação da Cordoaria Nova no local que estará na origem da designação dada ao local e ainda hoje em uso. Em 1789, o Campo da Cordoaria consistia num amplo terreiro, utilizado para o fabrico das cordas, rodeado, segundo as palavras do padre Agostinho Rebelo da Costa “de três filas de elevados, e grossos álamos plantados no mez de Fevereiro de 1758, em forma de uma grande Praça vazia”. Em 1835 o Campo ganha a designação de Campo dos Mártires da Pátria em memória dos portuenses condenados à forca em 1757 na sequência da revolta contra a Companhia da Agricultura e das Vinhas do Alto Douro.

No Campo funcionaria uma série de feiras diárias de frutas, hortaliças, aves, cereais e peixe e, anualmente, a Feira de São Miguel, criada em 1682 e que aí tomou lugar até 1876, ano em que é transferida para a Rotunda da Boavista.

O primeiro projeto conhecido para o ajardinamento do Campo da Cordoaria data de 1856, sendo da autoria do arquitecto inglês Edward Buckton Lamb. Esse projeto não viria, no entanto, a ser executado. Em 1866, Alfredo Allen, então vereador do pelouro dos jardins, apresenta à aprovação da Câmara Municipal do Porto o projeto para o jardim, da autoria de Emílio David, arquiteto paisagista alemão chamado à cidade para desenhar os jardins do Palácio de Cristal, inaugurados em setembro do ano anterior. O projeto, de desenho marcadamente romântico, característico da época, incluía no seu centro um lago de formas naturalizadas, em torno do qual se desenvolvia uma rede de caminhos de traçado orgânico e, nos limites poente e sul, duas longas alamedas para passeio. A meio da alameda a poente, hoje conhecida pelos seus magníficos plátanos, viria mais tarde a ser instalado um coreto e, na alameda a sul, um chalet, mais tarde convertido em café — o café Chaves — demolido no final da década de 1940.

As plantações do jardim, que se iniciam em finais da década de 1860, ocorrem num ambiente privilegiado para a horticultura e jardinagem uma vez que chegavam à cidade novas e exóticas plantas ornamentais, nomeadamente encomendadas pelos estabelecimentos hortícolas destacando-se, então, o horto de Marques Loureiro instalado na Quinta das Virtudes.

Em 1941, já após ter sido encurtado no seu extremo norte por razões de circulação viária, o jardim é gravemente afetado por um ciclone que destrói o seu arvoredo quase por completo, sobrevivendo, no entanto, a designada “Árvore da Forca”, um monumental negrilho ou ulmeiro que vem a morrer em 1986, com mais de 350 anos. Era a única árvore que se conservava da antiga Alameda, já que muitos exemplares terão sido arrancados, para combustível, durante o Cerco do Porto (1832–1833).

Em 2000, na sequência dos trabalhos de renovação urbana do Porto Capital Europeia da Cultura 2001, o jardim é alvo de uma intervenção profunda, de autoria do gabinete de arquitetura paisagista PROAP, que altera radicalmente o seu traçado original, irregular, de feição romântica, conferindo-lhe um caráter marcadamente geométrico, linear, determinado pela repetição de alinhamentos de sebes de buxo e bancos em granito, tendo-se conservado, contudo, a maior parte dos exemplares arbóreos e o lago, embora com alterações.

Algumas das árvores conservadas apresentam porte verdadeiramente notável. São elas os 37 grandiosos plátanos da Alameda dos Plátanos, com as suas bases grotescamente deformadas e classificados como Arvoredo de Interesse Público, desde 2005, e a araucária-da-Queenslândia, também classificada no mesmo ano e que, então, atingia 40 metros de altura e 4,5 metros de perímetro de base. Outros exemplares dignos de nota são a sequoia-gigante, uma espécie possivelmente apresentada à cidade por Emílio David, a sequoia-sempre-verde, os cedros-do-Líbano e do Atlas e as palmeiras-de-saia-da-Califórnia. De épocas diferentes podem ainda observar-se várias espécies de tília, teixos, carvalhos-americanos, carvalhos-escarlate, liquidâmbares entre outras espécies.

Vários elementos escultóricos embelezam o jardim, designadamente a “Flora” (1904), de autoria de Teixeira Lopes, erigida em homenagem ao horticultor José Marques Loureiro, a estátua de Ramalho Ortigão (1954), de Leopoldo de Almeida, o busto de António Nobre (1927), de Tomás da Costa com projeto de arquitetura de Correia da Silva, e um conjunto de esculturas, colocado na Alameda dos Plátanos, da autoria de Juan Muñoz, intitulado “Treze a rir dos outros” (2001). Recentemente, foi aí colocado o “Rapto de Ganimedes” (1898), de Fernandes de Sá, proveniente do jardim da Praça da República.

Arvoredo de Interesse Público
Plátano (Platanus hybrida Brot.)
Alameda constituída por 37 plátanos
Nº Processo: KNJ3/050
Classificação: D.R. nº 6 II Série de 10/01/2005

Araucária-da-Queenslândia (Araucaria bidwillii Hooker)
Nº Processo: KNJ1/450
Classificação: D.R. nº 6 II Série de 10/01/2005

Inventário: Matilde Cerqueira Gomes, João Almeida e Teresa Portela Marques – maio de 2020.

inserido na ROTA DO GRANDE PORTO

Jardim da Cordoaria / Jardim João Chagas

(Consultada em maio de 2020)
ANDRESEN, Teresa; Marques, Teresa Portela – Jardins Históricos do Porto. Lisboa: Edições Inapa, 2001. pp. 110, 111, 127-135.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5500
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/155836
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PRIEJP_Porto&c=PRIEJP_Porto_J1&qid=sdx_q11
http://www.cm-porto.pt/jardins-e-parques/jardim-do-carregal_6
http://www2.icnf.pt/portal/florestas/aip
http://maquina1.portodigital.pt/sitios-amp/sitio/12
https://dias-com-arvores.blogspot.com/2005/07/o-ulmeiro-da-cordoaria-1.html
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=edif%c3%adcio%20da%20reitoria%20-%20lado%20sul:%20campo%20dos%20m%c3%a1rtires%20da%20p%c3%a1tria

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