Jardins do Palácio de Cristal

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Jardins do Palácio de Cristal

Os Jardins do Palácio de Cristal localizam-se no antigo Campo da Torre da Marca, no topo de uma encosta alcantilada sobranceira ao rio Douro, não longe do centro histórico do Porto, no extremo este da União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, ocupando uma área de aproximadamente 9 hectares.

Nesse antigo Campo existia, desde 1542, uma torre que servia de marca à entrada das embarcações na barra do rio Douro, a qual foi destruída em 1833 durante o Cerco do Porto (1832–1833). Em 1854, é aqui erigida uma capela em memória de Carlos Alberto de Saboia, rei da Sardenha, que estivera exilado no Porto e morrera na vizinha Quinta da Macieirinha. A capela é um dos mais interessantes cenotáfios existentes em Portugal, construída segundo projeto da sua meia-irmã Augusta de Montléart, adaptado pelo arquiteto portuense Costa Lima Júnior. Nesta década o Campo acolhe várias exposições agrícolas surgindo, assim, a necessidade de se construir um edifício destinado a acolher em permanência estas iniciativas, constituindo-se, para esse fim, a Sociedade do Palácio de Cristal Portuense. É neste local, de topografia plana, com amplas vistas sobre o Douro e no limite do perímetro urbano da cidade, que se decide, então, construir o novo espaço de exposições.

Em 1861, são oficialmente inaugurados os trabalhos de construção do grande edifício, desenhado pelo arquiteto inglês Thomas Dillen Jones e inspirado no Palácio de Cristal de Londres. Simultaneamente, os jardins são concebidos pelo arquiteto paisagista alemão Emílio David, em 1864, obedecendo a um modelo geral de base paisagista, com jardins formais na proximidade do edifício um bosque de feição romântica nas encostas, e uma longa alameda — a Avenida das Tílias. A 18 de setembro de 1865 são inaugurados o Palácio de Cristal e os seus jardins, com a abertura da Exposição Internacional do Porto, a primeira do seu género a realizar-se em Portugal.

Os jardins manteriam as suas características originais até ao final do século XIX, verificando-se o incremento, a partir dos finais da década de 1870, das coleções de plantas, particularmente através da plantação de palmeiras na encosta sul e no jardim da entrada no recinto. No início da década de 1880 é construído um segundo palco-coreto na Avenida das Tílias — a concha acústica, da autoria de Tomás Soller, em substituição do primitivo coreto, e em 1891, segundo o risco do arquiteto paisagista belga Florent Claes, constrói-se o lago e uma gruta em betão armado, em frente à fachada posterior do edifício, num espaço que então se encontrava ajardinado. Em 1904, desaparece o chalé em madeira “de estilo suíço” da Avenida das Tílias, consumido por um incêndio.

Em 1933, a Câmara Municipal do Porto adquire o Palácio de Cristal e, no ano seguinte, decide inaugurar uma grande exposição — a primeira Exposição Colonial Portuguesa. A fachada principal do edifício é transformada segundo o projeto da autoria de Mouton Osório, refletindo o estilo Art Déco, e no centro do jardim, é erigido o Monumento ao Esforço Colonizador, uma obra de Sousa Caldas e Ponce de Castro, transferida mais tarde para a Praça do Império, à Foz do Douro. Na década de 1940, o estabelecimento de horticultura do Palácio é substituído por um roseiral e nos patamares inferiores são construídas novas estufas e estufins.

Em 1951, sob pretexto de se acolher o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, a realizar no ano seguinte, são iniciadas as obras de demolição do Palácio de Cristal, substituído por um edifício modernista de forma circular — o Pavilhão dos Desportos, batizado em 1988 de Pavilhão Rosa Mota — da autoria do arquiteto José Carlos Loureiro e oficialmente inaugurado em 1956. No decorrer da construção do novo edifício, o lago é modificado e destruída a gruta em betão sendo nesse local instalada a obra de Sousa Caldas “A Ternura” (1956).

Edifício e jardins, embora geridos inicialmente por uma Sociedade privada, estiveram sempre ao serviço do recreio público tendo sido palco de muitas exposições, festas, bailes, cortejos, batalhas de flores, lançamento de balões de ar quente, corridas de bicicletas, espetáculos teatrais e musicais, entre outros acontecimentos. A feira popular, de instalação mais recente, foi retirada dos jardins em 1990. Os jardins foram, recentemente, alvo de um projeto de recuperação, coordenado pelos arquitetos paisagistas Teresa Portela Marques e Gonçalo Andrade (FCUP), dando-se as obras como concluídas em 2019.

Acedendo aos jardins a partir do portão principal situado na rua D. Manuel II, encontra-se o jardim formal, agora batizado “Jardim Emílio David” em homenagem ao seu autor, enquadrado pelo Pavilhão Rosa Mota. O espaço, recentemente intervencionado, mantém o traçado original, consistindo num conjunto de canteiros relvados, ornamentados por maciços de flores e desenhando uma grande elipse. Este núcleo central do jardim é acompanhado lateralmente por dois lagos circulares contendo duas elegantes fontes em ferro fundido, provenientes da fundição francesa J. J. Ducel, sendo ornamentadas por figuras femininas e meninos no topo e seres fabulosos na base. As duas fontes são acompanhadas por quatro canteiros contendo três altíssimas e centenárias araucárias-de-Norfolk, esculturais bordos-do-Japão de folhas finamente recortadas e esculturas de ferro fundido, representando as quatro estações, proveniente das fundições Durenne, de Sommevoire, e Barbezat & Cie., de Val d’Osne. Maciços arbóreo-arbustivos com grande diversidade de espécies envolvem o jardim, sendo de destacar as magnólias-de-flores-grandes que enquadram a entrada, as muitas cultivares de camélia, os rododendros, as faias-de-folhas-vermelhas, os metrosíderos e, no canto noroeste, escondido no meio do arvoredo, um monumental cedro-branco.

Para poente do Pavilhão desenvolve-se a longa Avenida das Tílias, com cerca de 300 metros de comprimento, definida por quatro alinhamentos de tílias. No seu limite norte, no local do desaparecido Jardim de Inverno, encontra-se hoje a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, de construção moderna e enquadrada por um par de monumentais cedros-do-Líbano, por um notável metrosídero, classificado em 2019 como Árvore de Interesse Público, e por uma nogueira-do-Japão. Seguindo para sul, em direção ao rio Douro, encontram-se, à direita, o jardim das cidades geminadas (no local do conjunto original das jaulas de animais), a concha acústica e, mais à frente, o “Lago dos Cavalinhos” no agora designado Miradouro da Torre da Marca, de onde se obtém uma deslumbrante panorâmica sobre a Ponte da Arrábida e a foz do Douro. Do lado esquerdo, passando o pavilhão descobre-se o grande lago com a sua ilha e cascata e, no remate sul da alameda, a capela de Carlos Alberto e o seu cruzeiro de granito.

Daqui acede-se ao Bosque, que se desenvolve na encosta poente do jardim, onde frondosas faias, castanheiros, loureiros e bordos ensombram os estreitos e bucólicos caminhos que sulcam a encosta, ligando pequenos patamares entre os quais se desenvolve uma sucessão de pequenas cascatas que terminam num pequeno lago de formas sinuosas. A água marca também a sua presença mais a norte, na Gruta de Camões, rodeada por camélias, e no pequeno jardim de buxo, contendo ao centro a granítica Fonte de São Jerónimo. Uma avenida de castanheiros-da-Índia, junto ao portão de acesso à Quinta da Macieirinha, remata o Bosque a norte, enquanto a sul, em posição altaneira sobre a escarpa virada ao Douro, igual função ocupa o torreão oitocentista, excecional miradouro sobre o rio e a paisagem envolvente.

Na encosta sul, luminosa, virada ao rio e a Vila Nova de Gaia, o bosque gradualmente deu lugar a um conjunto de jardins, maioritariamente acrescentados após a aquisição da propriedade pela Câmara Municipal em 1933: o jardim da Mitra e a sua fonte, o Roseiral, nos terrenos da antiga Quinta dos Sete Campos, disposto em dois patamares e onde se podem observar alguns elementos escultóricos antigos trazidos de vários pontos da cidade, destacando-se o brasão e o fontanário dos antigos Paços do Concelho. Num terceiro patamar, junto à casa da quinta, uma pérgula serve de miradouro sobre o Douro, ladeada pela “Fonte das Ninfas”, em ferro fundido, e proveniente do fontanário do Mercado Ferreira Borges. De construção mais recente é o designado Jardim dos Sentimentos, inaugurado em 2001, onde se encontra a obra de Teixeira Lopes “A Dor”, projetada para o jazigo do banqueiro Pinto da Fonseca, no cemitério de Agramonte, e mais tarde doada pela família ao município.

Várias árvores monumentais embelezam esta encosta, destacando-se o conjunto de sete esguias palmeiras-de-leque-do-México, 'as sete magníficas', com cerca de 24 metros de altura, classificadas como Arvoredo de Interesse Público em 2019, os metrosíderos junto à casa do Roseiral, diversos cedros-do-Líbano, o braquiquito no topo do Roseiral e, já no regresso à entrada, os imponentes plátanos que ladeiam a avenida de igual nome por onde outrora circularam trens puxados a cavalos, trazendo visitantes aos jardins.

Arvoredo de Interesse Público
Metrosídero (Metrosideros excelsa Soland ex Gaertn.)
Nº Processo: AIP13121858I
Classificação: D.R. 2.ª série - N.º 53 - 15/03/2019

Palmeira-de-leque-do-México (Washingtonia robusta H. Wendland)
Alinhamento constituído por 7 palmeiras
Nº Processo: AIP13121857C
Classificação: D.R. 2.ª série - N.º 60 - 26/03/2019

Inventário: Matilde Cerqueira Gomes, João Almeida e Teresa Portela Marques – maio de 2020.

inserido na ROTA DO GRANDE PORTO

Jardins do Palácio de Cristal

ANDRESEN, Teresa; MARQUES, Teresa Portela – Jardins Históricos do Porto. Lisboa: Edições Inapa, 2001. pp. 120-127.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. [S.l.]: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 68-73.
MARQUES, Teresa Portela; BRUNO, Natália – Jardins do Palácio de Cristal. Porto: Câmara Municipal do Porto, 2017.
MARQUES, Teresa – Porto Crystal Palace’s Gardens. Innovation, experimentation and influence. In: Exposições Internacionais — Entre o jardim e a paisagem urbana. Do Palácio de Cristal do Porto (1865) à Exposição de Paris (1937) / International Expositions — Between garden and townscape. From the Porto Crystal Palace (1865) to the Paris Exhibition (1937). Porto: Fundação de Serralves, 2018. pp. 127-151.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=21772
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PRIEJP_Porto&c=PRIEJP_Porto_J29&qid=sdx_q11
http://www.cm-porto.pt/jardins-e-parques/palacio-de-cristal_33
http://maquina1.portodigital.pt/sitios-amp/sitio/1
http://www2.icnf.pt/portal/florestas/aip
https://dias-com-arvores.blogspot.com/2005/03/as-sete-magnficas.html
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1030122

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