Parque de Serralves
Norte | Porto
Parque de Serralves
O Parque de Serralves localiza-se na União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, Porto, e ocupa uma área com cerca de 18 hectares.
A origem do Parque de Serralves remonta a 1923, quando Carlos Alberto Cabral, 2º conde de Vizela, herda a Quinta de Lordelo, a propriedade de veraneio da família Cabral, localizada num dos núcleos de expansão da cidade, face à rua de Serralves, entre o Campo Alegre e a avenida da Boavista. A propriedade seria alargada nos anos seguintes, através de um processo de compra e permuta de propriedades adjacentes, até atingir a dimensão atual.
Imagens desse tempo mostram duas casas e capela a partir das quais se desenvolvia, para sul, um jardim romântico, composto por canteiros de formas orgânicas, culminando numa balaustrada sobranceira a um lago. Este, situado a meia encosta e de formas naturalizadas, apresentava ao centro uma ilha, na qual se localizava um pavilhão de gosto exótico e ao qual se chegava por via de uma ponte.
Em 1925, Carlos Alberto Cabral, acompanhado pelo arquiteto José Marques da Silva, visita a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris, e decide intervir na quinta, no âmbito do processo de reformulação da casa, então já em curso pelas mãos de Marques da Silva. Este esboçaria igualmente as primeiras ideias para os jardins de Serralves, vindo Carlos Alberto, no entanto, a convidar o arquiteto e urbanista francês Jacques Gréber, autor de vários projetos para jardins na Europa e na América do Norte, a desenhar o seu novo jardim.
Concebido durante um período socialmente conturbado da história europeia, entre duas grandes guerras, o projeto que, em 1932, Gréber entrega a Carlos Alberto integra alguns elementos pré-existentes, nomeadamente o lago, e constitui-se como uma ponte entre o neoclassicismo e o moderno, onde é dada continuidade aos modelos clássicos, libertando-se, no entanto, dos excessos decorativos.
Com a colaboração permanente de Marques da Silva, Carlos Alberto vai fazendo a síntese dos projetos que chegam de França, tanto para a casa — cuja imagem atual é atribuída ao arquiteto Charles Siclis, que em 1929 envia para o Porto duas aguarelas mostrando as suas frentes norte e sul — como para o parque. Em meados da década de 1930, a construção do parque encontrava-se em estado avançado e, em 1943, a casa, que representa hoje um ícone nacional da arquitetura residencial Art Déco, era dada como concluída.
A propriedade seria posta à venda 10 anos depois, em 1953, vindo a ser adquirida por Delfim Ferreira em 1957, também ele um industrial do setor têxtil à semelhança do conde de Vizela. A quinta ficaria na sua posse até 1986, quando é adquirida pelo Estado Português para aí se instalar o Museu Nacional de Arte Moderna. A propriedade abriria ao público em maio de 1987 e o parque reabre em junho de 1988, após obras de recuperação e adaptação ao uso público, segundo projeto das arquitetas paisagistas Teresa Andresen e Teresa Marques. Em 1989 é constituída a Fundação de Serralves, 10 anos depois, abre ao público o Museu de Arte Contemporânea, de autoria do arquiteto Álvaro Siza, sobre os terrenos do antigo pomar e horta da quinta, enquadrado por um jardim de desenho contemporâneo de autoria do arquiteto paisagista João Gomes da Silva. Em 2001, iniciam-se os estudos para uma segunda intervenção de recuperação do parque, de autoria dos arquitetos paisagistas Cláudia Taborda e João Mateus. As obras ficariam concluídas em 2006. Igualmente de desenho de Álvaro Siza, e passados 20 anos sobre a abertura do museu, é inaugurada a Casa do Cinema de Manoel de Oliveira, na convertida garagem do conde de Vizela e em edifício construído no pátio adjacente.
A Quinta de Serralves, a última grande quinta de recreio a ser construída no Porto, é uma obra de arte paisagista sem par em Portugal, e serão poucos os exemplos sobreviventes no estrangeiro deste período da arte dos jardins, com o mesmo nível de integridade e conservação. Seria classificada como Imóvel de Interesse Público em 1996 e reclassificada como Monumento Nacional em 2012.
A entrada principal no Parque da Fundação de Serralves é hoje feita pela rua D. João de Castro. Daí, seguindo pelo caminho que ladeia a clareira das bétulas, uma das três clareiras — das bétulas, teixos e azinheiras — que circundam o Museu, atinge-se um espaço de formato octogonal — o grande largo de entrada no parque e o seu portão de ferro trabalhado à face da avenida Marechal Gomes da Costa. Daqui parte um dos dois eixos principais do Parque, na forma de uma imponente alameda constituída por fiadas duplas de altíssimos e esguios liquidâmbares, de copas interligadas, um túnel evocativo das grandes catedrais góticas, de notável diversidade cromática sazonal, particularmente no outono, quando as folhas das árvores se metamorfoseiam numa imensa paleta de cores.
Ladeando a alameda dos Liquidâmbares, pelo lado norte, encontra-se um bosque percorrido por caminhos ensombrados por denso arvoredo, de grande variabilidade sazonal, de onde se destaca um conjunto de magníficas faias, a maior concentração desta espécie no Parque. Sensivelmente ao centro deste espaço, descobre-se um grupo de camélias centenárias, remanescentes do jardim de uma das propriedades adquiridas pelo conde de Vizela, e habilmente integradas por Gréber no novo jardim. Entre este bosque e a alameda, descobre-se também um longo jardim de forma retangular, em diálogo direto com a fachada poente da casa. Do desenho original deste espaço, onde marcavam presença maciços arbustivos pontuados por ciprestes, subsistem hoje os três longos relvados delimitados por sebes baixas de buxo, agora envoltos pelas altas copas das faias e carvalhos-americanos do bosque e dos liquidâmbares da alameda.
Ladeando a alameda dos liquidâmbares, pelo lado sul, encontram-se o roseiral, o campo de ténis e o jardim do relógio de sol. O roseiral desenvolve-se num amplo patamar sendo constituído por um conjunto de canteiros de rosas bordejados a buxo e delimitado, a norte e a cota superior, por uma pérgula destinada a roseiras trepadeiras. No ponto central do roseiral assenta uma pequena fonte, com taça circular, proveniente do antigo jardim romântico da Quinta de Lordelo. No campo de ténis destaca-se o pavilhão de apoio, hoje convertido em casa de chá, convidando a uma pausa sob a sombra de uma pérgula de glicínias de exuberantes florações primaveris. O jardim do relógio de sol completa este trio de espaços, constituindo-se como um pequeno jardim de formato quadrangular, contendo ao centro o pedestal que terá recebido um relógio de sol. Outrora delimitado por sebes de teixo e arcos formados por ciprestes em cada uma das entradas, destacam-se hoje os enormes rododendros que, no final do inverno, o envolvem de floração exuberante.
A alameda dos liquidâmbares termina num amplo terreiro que se desenvolve na frente da casa, ocupando o ponto mais alto da propriedade. Para nascente da casa encontram-se o jardim das camélias e o arboreto, dois espaços remanescentes do antigo jardim romântico da Quinta de Lordelo. No primeiro evidencia-se um conjunto de camélias centenárias rodeando uma alta araucária-de-Norfolk, enquanto, no segundo, naquele que seria o lugar de eleição para o colecionismo e exibição botânica tão em voga no Porto oitocentista.
Deste ponto desenvolve-se o eixo principal do Parque, em direção a sul, com cerca de 500 metros de comprimento, o que nos jardins do Porto se pode comparar, apenas, ao grande eixo barroco da Quinta da Prelada, hoje cortado pela Via de Cintura Interna.
Sobre o eixo principal da propriedade e a um nível inferior ao da Casa desenvolve-se um jardim de carácter vincadamente formal, constituído por um conjunto de socalcos relvados, ladeados por orlas arbustivas. É rematado, no topo, por uma casa de fresco, a partir da qual se desenvolve um sistema de jogos de água, composto por bicas, tanques e canaletes revestidos a azulejos, culminando, no ponto mais baixo, numa grande taça de formato octogonal contendo, no seu centro, uma fonte gomada de feição marcadamente Art Déco. A cota superior e de ambos os lados, o jardim é flanqueado por duas alamedas de castanheiros-da-Índia.
Continuando para sul, ao longo do eixo principal e a cota inferior, encontra-se um amplo miradouro sobre o lago e as suas encostas cobertas por frondoso bosque, de carácter maioritariamente espontâneo e pouco artificializado. No centro do lago mantém-se a ilha, agora isolada, contendo no seu centro um grupo de imensas tílias-pendulas. Sob a escada que desce desde o miradouro, um ancoradouro evoca a desaparecida gruta romântica. Para sul do lago, e no final de uma escadaria, encontra-se um largo octogonal, ponto de encontro e de partida para vários locais do Parque: para poente, o caminho da presa conduz ao museu, para nascente o caminho da levada constitui um amplo miradouro sobre o lameiro e os prados. Para sul, uma longa alameda, outrora fechada por altas sebes talhadas e hoje aberta aos prados, com vistas apenas entrecortadas pelos alinhamentos de castanheiros-da-Índia, conduz ao jardim das aromáticas e ao assento agrícola do Mata-Sete. Aí, num grupo de edifícios, dispostos em torno de um pátio quadrangular, de cariz rural e desenhado por Marques da Silva, desenvolve a sua atividade o Serviço Educativo do Parque, envolvendo grupos de crianças, escolas e a comunidade em geral em ações de educação científica e ambiental.
Para além do seu inegável valor no que concerne à paisagem e à arte de jardins, o Parque de Serralves constitui-se, ainda, como um lugar de inegável valor natural, albergando uma notável diversidade de flora e de fauna. São mais de 200 as espécies e variedades de flora autóctone e exótica ornamental que se podem encontrar pelo Parque, ultrapassando os 4.000 exemplares de plantas lenhosas, provenientes de todos os continentes, estando também identificadas 75 espécies de cogumelos. No que respeita à fauna, estão presentemente inventariadas 4 espécies de anfíbios, 2 de répteis, 3 de micromamíferos, 2 de morcegos, 56 de aves e 64 de invertebrados. Para além destes, podem ainda ser encontrados no Parque vários elementos de raças autóctones de animais domésticos, nomeadamente bovinos, ovinos e burros de Miranda.
Todo este património natural e paisagístico serve de cenário a um conjunto de obras de arte contemporâneas, parte integrante da coleção do Museu, e que se encontram dispersas pelo Parque.
MN – Monumento Nacional, Decreto nº 31-G/2012, DR, 1ª série, nº 252, de 31 dezembro 2012.
IIP – Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 2/96, DR, I Série-B, nº 56, de 6 março 1996.
Inventário: Matilde Cerqueira Gomes, João Almeida e Teresa Portela Marques – maio de 2020.
inserido na ROTA DO GRANDE PORTO
Parque de Serralves
(Consultada em maio de 2020)
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https://www.serralves.pt/pt
http://maquina1.portodigital.pt/sitios-amp/sitio/6