Jardins do Palheiro Ferreiro / Jardins Blandy
Madeira | Funchal
Jardins do Palheiro Ferreiro / Jardins Blandy
A Quinta do Palheiro Ferreiro, é a maior quinta da Madeira com uma área aproximada de 200 ha, dois quais 13 ha são jardins, está localizada num planalto a nordeste do Funchal, a 550 m de altitude, com vista panorâmica sobre a baía do Funchal. Hoje, para além de ser um dos jardins mais notáveis e mais visitados da Madeira, mantém a sua função residencial, mas está adaptado à hotelaria e ao turismo existindo aqui um hotel, na chamada Casa Velha, que pertence à cadeia Relais & Châteaux com o seu campo de golfe e spa e integra ainda o Palheiro Village e as estufas da Florialis, uma empresa fundada em 1972 pela família Blandy, cuja atividade principal é a produção, comércio e exportação de flores de corte, nomeadamente, orquídeas, cymbidium, proteas, estrelícias, helicónias, etc.
No início do século XIX, João José Xavier de Carvalhal Esmeraldo de Atouguia Bettencourt Sá Machado (1778-1837), futuro 1.º conde de Carvalhal da Lombada, foi não só o mais abastado proprietário da Madeira, como dos mais abastados do país, possuindo propriedades em quase todas as freguesias da ilha. O conde iniciou o ordenamento da quinta em 1804, a partir de um pavilhão de caça preexistente. Mandou plantar uma área grande área de carvalhal, o primeiro viveiro de carvalhos da ilha. A tradição associa a autoria do traçado do jardim inicial a um jardineiro paisagista francês que trabalharia para o 1.º conde. Alguns anos depois foi edificada uma casa ainda hoje existente e designada por “Casa Velha”, adaptada como uma unidade hoteleira. No período das lutas liberais, em 1828, o conde de Carvalhal, apoiante do constitucionalismo, teve de se exilar em Inglaterra, devido à ocupação da Madeira pelas tropas miguelistas, só regressando à Madeira quando se estabeleceu a monarquia constitucional, no ano de 1834. Nessa altura, o conde coordenou a reformulação da quinta com o estabelecimento de um horto botânico, de pomares e de jardins. António Leandro da Camara Leme do Carvalhal Esmeraldo Atouguia Sá Machado (1831-1888), 2º Conde do Carvalhal, herdou em 1837 a quinta conforme foi desejo testamentário do seu tio. Na sequência da bancarrota do 2º Conde do Carvalhal, o comerciante inglês ligado ao vinho da Madeira John Burden Blandy (1841-1912) - representante da 3ª geração dos Blandy na Madeira - adquiriu a quinta em 1885. Com a família Blandy foi construída em 1889 uma casa, de gosto vitoriano da autoria do arquiteto George Somers Clark, Jr. (1841–1926), autor do projeto do Reid’s Hotel. O local escolhido para a nova casa foi um dos pontos mais altos da quinta, desfrutando do belo panorama da baía do Funchal. Ao longo do tempo, a Quinta do Palheiro Ferreiro afirmou-se como lugar de referência para todos os visitantes ilustres da ilha da Madeira. A arquiduquesa D. Maria Leopoldina de Áustria (1797-1826) visitou a Madeira em 1817, tendo ficado alojada na quinta, antes de seguir rumo ao Brasil. O rei D. Carlos e a rainha D. Amélia participaram em 1901 num Garden Party nos Jardins do Palheiro Ferreiro, aonde também disputaram partidas de ténis. Ao longo de várias gerações, tornou-se tradição na família Blandy que as senhoras se dedicassem à gestão dos jardins da quinta. Milfred Blandy (1905-1981), mãe do atual proprietário Adam Blandy - representante da 6ª geração dos Blandy na Madeira - ao longo de mais de 50 anos supervisionou o desenvolvimento dos jardins, incluindo nos planos de plantação várias plantas oriundas da África do Sul, da sua terra natal, como as próteas. Mildred Blandy era uma grande apaixonada por horticultura, tendo criado um pequeno jardim junto à capela, designado por "Jardim da Senhora". Na década de 80 do século XX, a antiga casa do conde de Carvalhal foi transformada numa estalagem - hoje um hotel - e, em 1998, foi construído o campo de golf e, nesse mesmo ano, o jardim recebeu o prémio “Melhor Jardim da cadeia "Relais & Chateau" Luxury Resorts”. Em 2015, o “The Gardener’s Garden” considerou a quinta do Palheiro Ferreiro entre os 250 melhores jardins do mundo e um dos cinco melhores em Portugal. Em 2020, a revista da European Boxwood and Topieraty Society – secção francesa – atribuiu novamente um prémio aos jardins.
As visitas aos jardins são feitas a partir do Caminho do Palheiro Ferreiro onde existe a receção. daqui, em direção a sul, segue um caminho ladeado de plátanos e camélias e campos. O caminho conduz a um parque de estacionamento, junto de uma levada. A partir daqui acede-se ao jardim principal que fica entre a levada e o ribeiro do Inferno, organizado em seis quadras com um caminho central coberto por uma latada coberta por clematis. Numa cota superior encontra-se a casa de residência dos Blandy numa posição privilegiada com um amplo patamar relvado com um pequeno lago e vista sobre o jardim principal, o Funchal e o oceano. Junto à soleira da porta da casa, no chão, encontra-se inscrita a data de 1891. A ligação deste patamar com o jardim principal é feita por escadas, assinaladas por ciprestes e os taludes são revestidos por uma grande diversidade de plantas características de rock gardens. O jardim principal é delimitado por quatro caminhos, o caminho central com o ‘Sunken Garden' a ocupar a primeira quadra a poente. Existem ainda dois caminhos perpendiculares ao caminho central, um com bancos e outro que conduz a uma pequena ponte sobre a levada. As quadras são relvadas, com canteiros de flores de estação e destacam-se árvores notáveis nomeadamente as monumentais metrosidero, tulipeiro, araucária, sequoia, cedro-do-Atlas, araucária-da-Queenslânida, canforeira, pinheiro-das-Canárias, tis, e carvalho. Uma vez atravessada a levada onde rododendros e camélias marcam presença, à esquerda encontra-se a capela e daqui avista-se, sobre a direita, a Casa Velha. Seguindo em direção ao campo de golfe, descendo uma escada encontra-se o jardim da Senhora, criação de Milfred Blandy, com arbustos talhados em forma de galinha, e abundantes flores de estação. Segue-se o roseiral - criação de Christina Blandy, até que se chega à casa de Chá, junto ao campo de golfe, antecedida por um comprido lago. Retomando-se a direção da Casa Velha, o primitivo pavilhão de caça que deu lugar à casa construída pelo 1º conde de Carvalhal, hoje um equipamento hoteleiro, depara-se à esquerda com um tanque e dois patamares ajardinados ficando o hotel com o seu terraço ao fundo. À direita encontram-se os viveiros do jardim. A coleção botânica do jardim é notável sendo de destacar a mata de carvalhos, os plátanos, os castanheiros, a coleção de camélias, os liriodendros, os gingkos, as sequoias, os cedros, as araucárias, entre outras espécies. A água para rega da quinta é proveniente da Levada do Blandy, que conduz por gravidade das nascentes do alto. Adam e Christina Blandy têm dado continuidade ao trabalho de Mildred Blandy, com a criação de novos jardins e prosseguindo com o aumento da diversidade de flores e trepadeiras da coleção botânica. Christina Bengtsson Blandy é uma grande conhecedora de rosas e camélias.
Inventário: Sónia Talhé Azambuja (março de 2020).
inserido na ROTA DA MADEIRA
Jardins do Palheiro Ferreiro / Jardins Blandy
(consultada em março de 2020)
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