Parque de Santa Catarina

Madeira | Funchal

Parque de Santa Catarina

O Parque de Santa Catarina fica situado da freguesia da Sé, no centro histórico do Funchal, com uma localização elevada em relação porto, e vista panorâmica sobre a cidade e a sua baía até à Ponta do Garajau. Este parque é o maior espaço verde do centro histórico, com uma área de 3,5 ha, a uma altitude que vai dos 10 aos 30 metros, com exposições dominantes a sudeste e a sul. O seu nome advém-lhe da existência neste local da capela de Santa Catarina aqui construída em 1425.

O parque ocupa os terrenos onde estava construído o cemitério de Nossa Senhora das Angústias desde 1837. Durante as primeiras décadas do século XX, o cemitério foi transferido para São Martinho, foram adquiridas novas parcelas e iniciaram-se os planos para a construção do maior parque público do Funchal, inicialmente previsto com uma área de cerca 9 ha, e que iria englobar as três quintas do Estado: Bianchi, Pavão e Vigia e ainda a quinta particular de Nossa Senhora das Angústias, os terrenos do antigo cemitério, a capela de Santa Catarina e outros terrenos adjacentes. Segundo Teresa Andresen, o arquiteto paisagista Francisco Caldeira Cabral (1908--1992), fundador da profissão de arquiteto paisagista em Portugal, foi convidado em 1941 pelo presidente da Câmara Municipal do Funchal, Fernão de Ornelas Gonçalves (1908 -1978), a elaborar um anteprojeto para o Parque de Santa Catarina, para além de outros projetos no Funchal (Praça do Município, Largo da Restauração, Avenida do Mar e Jardim Municipal de S. Francisco). Houve contestação ao projeto de Caldeira Cabral por parte do poder central, através de Duarte Pacheco (1900-1943), Ministro das Obras Públicas e Comunicações, o que conduziu a que em 1943 houvesse nova encomenda para o projeto do parque ao arquiteto portuense, David Moreira da Silva (1909-2002). Neste período houve desentendimentos em relação ao programa do projeto do parque entre a autarquia e a Delegação de Turismo da Madeira, pelo que em 1949, a Câmara convidou o arquiteto Miguel Jacobetty Rosa (1901-1970) para desenvolver nova proposta para o grande parque, assente em grandes eixos visuais e num sentido mais cenográfico. Neste período, devido a problemas de expropriação com a quinta das Angústias, o projeto Jacobetty também nunca veio a ser construído. Por fim, em 1958, através da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, o arquiteto paisagista António Viana Barreto (1924-2012), um dos primeiros discípulos de Francisco Caldeira Cabral, técnico superior da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, elaborou o projeto de execução do atual Parque de Santa Catarina, que foi inaugurado em 1966. No projeto de Viana Barreto são reintegradas algumas das ideias mestras do projeto de 1941-1943 de Caldeira Cabral.

O projeto do parque apresenta um traçado orgânico, um grande lago a poente e tem como equipamento principal uma grande clareira de relvado que faz a ligação do lago, na cota mais alta, ao adro da capela, numa cota inferior. As orlas do parque são formadas de vegetação arbórea e arbustiva, constituídas por espécies como carvalho cerquinho (Quercus faginea), o carvalho negral (Quercus pyrenaica), a oliveira (Olea spp), o ulmeiro (Ulmus spp), o freixo (Fraxinus spp), o salgueiro (Salix spp) e o choupo (Populus spp). No estudo fitogeográfico do parque de Santa Catarina elaborado por Raimundo Quintal é realçado que este parque tem o nível de Excecional no Índice de Riqueza Florística, com vegetação tão diversificada como: sumaúma (Chorisia speciosa), coralina-cristade-galo (Erythrina crista-galli), coralina-da-abissínia (Erythrina abyssinica), coralina-elegante (Erythrina speciosa), as árvores-do-fogo (Brachychiton acerifolius e Brachychiton x hybridus), jacarandá (Jacaranda mimosifolia), a tipuana (Tipuana tipu), lodão-bastardo (Celtis australis), plátano (Platanus x acerifolia), árvore-de-são-tomé (Bauhinia variegata), entre outras. De acordo com Raimundo Quintal, existem várias grutas naturais no parque no seio da escoada basáltica sobre a qual foi construída, e na maior das grutas estão as instalações dos jardineiros. Neste parque são ainda de destacar duas árvores de porte monumental: uma canforeira (Cinnamomum canphora) e uma pimenteira-bastarda (Schinus molle).

O parque de Santa Catarina tem várias entradas sendo a mais próxima do centro histórico junto à Rotunda do Infante. Outra entrada, próxima do jardim do Hospício da Princesa D. Amélia, localiza-se na Avenida do Infante dando imediatamente acesso ao lago do parque. O parque também é acessível por escadas que se iniciam junto ao mar, na avenida Sá Carneiro, e acompanham a escarpa sobre o oceano. A poente confronta com a Quinta Vigia e logo imediatamente abaixo desta há uma entrada que dá acesso à parte mais alta do parque com diversos equipamentos que incluem uma zona de bar, ludoteca e parque infantil e onde existe uma grande diversidade de vegetação. O parque está organizado em torno de um eixo poente-nascente, com o lago na zona mais alta do jardim, e a grande clareira relvada central a fazer a articulação com a zona mais baixa do jardim, junto da capela, junto à escarpa sobre o mar. Os caminhos de traçado orgânico, pontuados por bancos e por vezes acompanhados de muretes, percorrem as orlas arborizadas da clareira de relvado, em direção à capela. Esta capela foi mandada construir em 1425 por Constança Rodrigues de Sá (c. 1400-?), mulher do de João Gonçalves Zarco (c. 1390-1471), primeiro capitão donatário do Funchal, em honra de Santa Catarina de Alexandria (início do século IV). Sabe-se que, originalmente, a capela foi construída em madeira, e que a construção atual data dos finais do século XVII. A capela alpendrada está envolta por um amplo adro revestido a laje e calçada basálticas que constitui um miradouro. A capela mantém ainda elementos da construção dos inícios do século XVI como a cruz de Cristo, a pia batismal e a torre sineira. Uma escada faz a ligação do adro à Rotunda do Infante. No adro encontra-se uma estátua a Cristóvão Colombo e ainda uma lápide evocativa da presença dos gibraltinos durante a II Guerra Mundial em que a Madeira, em 1940, acolheu cerca de 2.000 cidadãos de Gibraltar que aqui permaneceram até ao fim do conflito.

Inventário: Sónia Talhé Azambuja - março de 2020.

inserido na ROTA DA MADEIRA

Parque de Santa Catarina

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