Quinta das Cruzes

Madeira | Funchal

Quinta das Cruzes

A Quinta das Cruzes fica situada da freguesia de São Pedro do Funchal, no núcleo histórico da Calçada do Pico, entre o Convento de Santa Clara (século XVI) e a Fortaleza de São João Baptista do Pico (século XVII). A quinta tem atualmente uma área de quase 1 ha, a uma altitude que vai dos 60 aos 75 metros, com exposição predominante a sul.

A Quinta das Cruzes é uma das quintas madeirenses mais representativas da ilha, pois foi a última residência de João Gonçalves Zarco (c. 1390-1471), navegador e cavaleiro fidalgo da Casa do Infante D. Henrique, descobridor da Ilha da Madeira, em conjunto com Tristão Vaz Teixeira (c. 1395-1480) e Bartolomeu Perestrelo (c. 1394 -c. 1457). João Gonçalves Zarco foi o 1º Capitão Donatário do Funchal, entre 1425 -1467(?), tendo obtido em 1460 a cota d' armas do apelido 'Camara' do rei D. Afonso V. Uma construção de pequenas dimensões foi iniciada por João Gonçalves Zarco, tendo sido ampliada pelo seu filho João Gonçalves da Camara (c. 1435-1501), o 2º capitão donatário do Funchal. Até ao século XVII, a família Camara permaneceu na quinta, passando nessa altura através de casamento para a família Lomelino, de origem genovesa, que habitou a quinta até ao final do século XIX. A Capela da Quinta das Cruzes foi erigida em 1692 pela família Lomelino, sendo dedicada a Nossa Senhora da Piedade. Enquanto esteve na posse da família Lomelino a quinta foi alvo de várias modificações, como a edificação da arcaria da fachada principal e a reformulação da casa principal. O terramoto de 1748 danificou a casa principal que terá sido parcialmente reconstruída nessa altura. Durante o século XX a quinta teve vários proprietários e usos muito diversos, como sede da Banda Filarmónica do Funchal (1929-33), consultório médico e fábrica de bordados da família Miguéis (c.1945-46). A quinta foi adquirida pelo Estado em 1946, e em1953 abriu ao público o Museu da Quinta das Cruzes, tendo com acervo inicial a coleção de artes decorativas do colecionador madeirense César Filipe Gomes. Ao longo dos anos a coleção foi aumentada através de doações como da coleção de João Wetzler, e de diversas aquisições, formando um espólio representativo das artes decorativas dos século XV ao século XIX. A história desta quinta cruza-se com a história da cidade do Funchal, existindo a denominação das Cruzes há mais de cinco séculos.

O portão principal da quinta na Calçada do Pico, dá acesso a um eixo que atravessa as arcadas do casa principal da quinta, hoje museu, alinhado ao fundo com uma araucária monumental (Araucaria bidwillii). No muro de entrada é de destacar a trepadeira gaitinhas (Pyrostegia venusta) com floração alaranjada exuberante. Passando o portão, do lado esquerdo, as escadas dão acesso a um jardim a uma cota inferior, com lago central, e canteiros com rosas e diversas espécies de herbáceas. Deste local avista-se a torre sineira do Convento de Santa Clara, mandado construir pelo 2º capitão donatário do Funchal, João Gonçalves da Camara, e que se tornou panteão dos Capitães Donatários do Funchal. Os caminhos do jardim são de calçada de seixo rolado e o revestimento dos tanques em pedra de fajôco. No final das arcarias temos uma jardim quadripartido. Mais à frente, à esquerda um tanque, e as escadas de acesso à capela, na cota mais baixa da propriedade. Junto à capela fica o portão secundário da quinta, com acesso na Rua das Cruzes, junto do Miradouro das Cruzes, com vista privilegiada para o Funchal e para o mar. O muro exterior da quinta de cor ocre, junto da capela, tem pintadas cruzes. Ao longo da quinta existem pequenas construções, casinhas de prazer, locais de estadia no jardim e ponto de encontro social de eleição das quintas madeirenses. O caminho ascendente com orientação sudeste a noroeste, dá acesso à zona mais alta da quinta, junto do viveiro de orquídeas. No topo deste caminho, do lado direito, está um dragoeiro de grande porte e, do lado direito, uma azinheira monumental. Na parte superior do jardim é possível observar a muralha da fortaleza de São João Baptista do Pico, um dos ex-libris do Funchal. No limite noroeste da quinta ficam o armazém, a estufa, as instalações dos jardineiros, iniciando-se um caminho junto do fontanário com pintura mural (fresco) dos finais do século XVIII, que leva à zona da cafetaria e esplanada, com vista sobre o Miradouro das Cruzes. A rega do jardim é feita com água da rede pública desde que a antiga Levada dos Moinhos foi desativada, no início dos anos 90 do século XX. A coleção de plantas da quinta é diversificada incluindo espécies como a canforeira, jambeiro, magnólia, cycas, bananeira, palmeiras, etc. Segundo Raimundo Quintal, no elenco de plantas da quinta predominam espécies de climas tropicais e subtropicais. Nos canteiros do jardins existe um parque arqueológico, sendo de destacar parte do pelourinho do Funchal, duas janelas manuelinas, e várias pedras tumulares.

Monumento / Interesse Público (IP), DG 1ª série, n.º 147, Dec. 36.383, 28 de junho de 1947.

Inventário: Sónia Talhé Azambuja - março de 2020.

inserido na ROTA DA MADEIRA

Quinta das Cruzes

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Calçada do Pico, N.º 1, 9000-206 Funchal