Quinta Vigia

Madeira | Funchal

Quinta Vigia

A Quinta Vigia fica situada da freguesia da Sé, no centro histórico do Funchal, com uma localização elevada em relação ao porto, e vista panorâmica sobre a cidade e a sua baía até à Ponta do Garajau. Tem uma área de 0.92 ha, e uma altitude que vai dos 20 aos 40 metros, com exposições dominantes a este e a sudeste. A quinta tem uma forma quase retangular, e os seus muros confinam a poente com os jardins do Hotel Pestana Carlton Park, e a nascente com o Parque de Santa Catarina.

A origem desta quinta remonta ao século XVII. Era nessa altura denominada por “Quinta das Angústias", devido à presença da capela dedicada a Nossa Senhora das Angústias e Almas, instituída em 1662, na propriedade de Diogo da Costa do Quental (1619-1669), sargento-mor do Funchal, e de sua mulher, D. Mécia de Vasconcelos (1608-1692). D. Guiomar de Vilhena (1705-1789), fidalga madeirense, foi proprietária e empresária de relevo na ilha, chegando a administrar 48 capelas, para além de um grande número de propriedades rurais e urbanas. A Quinta das Angústias, atual Quinta Vigia, foi a principal residência de D. Guiomar. O mirante da quinta, conhecido como Mirante de D. Guiomar, funcionava como posto de vigia para controlo das entradas e saídas dos navios de exportação do comércio dos vinhos da Madeira. D. Guiomar de Vilhena faleceu na Quinta das Angústias em 1789, tendo o seu sobrinho Cor. Luís Vicente de Carvalhal Esmeraldo (c. 1752-1798) sido herdeiro. Neste período a quinta foi arrendada à família do cônsul francês Nicolau de La Tuellièrie (c. 1750-1820) que fez obras relevantes na propriedade. O príncipe Maximiliano (1817-1852), duque de Leuchtenberg, genro do czar russo Nicolau I, habitou esta quinta em 1849, em busca de cura para a sua doença pulmonar. O duque de Leuchtenberg, era irmão de D. Amélia de Bragança (1812-1873), e do príncipe Augusto (1810-1835), o primeiro marido de D. Maria II que morreu pouco tempo depois do casamento. Foi nesse contexto que, em 1852, D. Amélia de Leuchtenberg de Bragança, imperatriz-viúva do Brasil, se instalou na Quinta das Angústias, na companhia da princesa D. Maria Amélia (1831-1853), que sofria de tuberculose. A princesa D. Maria Amélia, a filha mais nova do rei D. Pedro IV, imperador D. Pedro I do Brasil, morreu no ano seguinte, em 1853, tendo a imperatriz-viúva decidido homenageá-la com a fundação do Hospício Princesa D. Maria Amélia, nas imediações da quinta, do outro lado da Avenida do Infante. Em 1863, a quinta foi adquirida pelo conde Alexandre Charles de Lambert (1815-1865), general de cavalaria e ajudante de campo do imperador da Rússia, tendo nessa altura a quinta passado a ser designada por Quinta Lambert. A quinta teve inúmeros proprietários ao longo da sua história, tendo estado na posse da família do Conde de Carvalhal, na família Blandy, entre outras. Durante o século XIX várias personalidades de relevo habitaram na quinta como a rainha viúva Adelaide de Inglaterra (1792-1849) e a Imperatriz Isabel de Áustria (1837-1898). De acordo com Rui Carita, durante o século XIX, esta quinta era um destino de excelência para os doentes do turismo terapêutico que procuravam uma cura para a tuberculose no clima ameno da Madeira. Na sequência da visita régia à Madeira de 1901 do rei D. Carlos I (1863-1908) e da rainha D. Amélia (1865-1951), o príncipe alemão Frederick Charles de Hohenlohe Oehringen (1855-1910), implementou na ilha, em 1903, um projeto de sanatórios marítimos e de altitude. Segundo o Elucidário Madeirense, a Quinta Vigia foi uma das propriedades da antiga Empresa dos Sanatórios de que foi concessionário o príncipe Frederick de Hohenlohe Oehringen. Em 1903, a quinta foi vendida ao madeirense Júlio Paulo de Freitas, voltado a designar-se por Quinta das Angústias. Parte desta quinta foi desanexada na década de setenta do século XX para a construção do Casino e do Hotel Pestana Casino Park, projeto dos arquitetos Oscar Niemeyer e Viana de Lima, e engenheiro J. M. Madeira e Costa. O Governo Regional da Madeira comprou a quinta em 1979, tendo até 1981 sido a sede do Conservatório de Música da Madeira. Desde 1984 que a Quinta Vigia é a residência oficial do presidente do Governo Regional da Madeira, estando esta data inscrita no desenho do pavimento da entrada da quinta.

Acede-se à quinta através do portão de acesso localizado na Avenida do Infante. Passando o portão, do lado direito fica a capela e o palácio que têm na sua frente um bosquete em que se destaca uma scótia (Schotia brachypetala). Do lado esquerdo inicia-se um caminho axial que nos conduz a uma zona de canteiros de espécies herbáceas floridas, onde existiu um campo de ténis. Ao longo do percurso, no jardim podemos apreciar as vistas privilegiadas sobre o oceano. O traçado da maioria dos caminhos é orgânico, sendo os pavimentos de calçada de seixo rolado. No centro do jardim existe um grande número de canteiros, um riacho, um lago, fontes, pérgulas com trepadeiras, gaiola com aves exóticas, latadas com trepadeiras, e uma grande coleção de plantas herbáceas e subarbustivas. Na Quinta Vigia existem árvores com porte monumental como é o caso do barbusano (Apollonias barbujana) e dos tis (Ocotea foetens) da flora macaronésica, do núcleo de figueiras-da-Índia (Ficus benjamina), e das Araucaria columnaris e Araucaria heterophylla, que são as árvores mais altas do jardim. Na coleção de plantas do jardim podemos observar uma diversidade de bromélias, aloés, palmeiras (Livistona chinensis) e herbáceas floridas. No limite sul da quinta, junto da muralha, localiza-se o mirante D. Guiomar, um posto de vigia que dá o nome atual da quinta. Neste mirante podemos admirar uma vista panorâmica sobre o porto do Funchal, ex-líbris desta quinta. Junto o mirante, o miradouro está enquadrado por duas "casinhas de prazer", elemento tradicional das quintas madeirenses.

Inventário: Sónia Talhé Azambuja - março de 2020.

inserido na ROTA DA MADEIRA

Quinta Vigia

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