Quinta dos Jardins do Lago
Madeira | Funchal
Quinta dos Jardins do Lago
A Quinta dos Jardins do Lago, situada na freguesia de São Pedro, a cerca de 1,5 Km do centro do Funchal, desenvolve-se num pequeno planalto com exposição predominante a sul e vista para a baía do Funchal, entre a Ribeira de Santa Luzia e s Ribeira de São João, a uma altitude que vai dos 130 aos 145 metros.
O sítio da quinta é conhecido por Achada, sendo que na Madeira o termo ‘Achada’ significa pequeno planalto, sendo por isso o nome original Quinta da Achada. No século XVIII a Quinta da Achada foi criada por uma família madeirense com a construção da casa inicial, que mais tarde foi ampliada. Entre 1750 e 1770, esta quinta pertenceu à firma Lamar, Hill Bisset & Co, a maior exportadora de vinho da Madeira da época. Esta firma familiar constituída por sócios ingleses, tinha como sócio mais velho Thomas Lamar, casado com Mary Lamar, irmã dos outros dois sócios, Henry Hill e Robert Bisset. Neste período o vinho da Madeira era extremamente apreciado tanto na América do Norte como no Reino Unido, sendo por isso natural que os sócios da Lamar, Hill Bisset & Co residissem no Funchal, Londres e Filadélfia. George Washington (1732-1799), o primeiro presidente dos EUA (1789–1797), por volta de 1785-1791 fez encomendas à Lamar, Hill Bisset & Co de pipas de vinho da Madeira. No final do século XIX, a quinta serviu como residência de férias de veraneio do bispo do Funchal. O general William Carr Beresford, que liderou as tropas inglesas na segunda ocupação da ilha da Madeira, habitou a quinta entre 1807 e 1808. No início do século XIX a quinta passou a ser propriedade do inglês William Penfold, também comerciante de vinho da Madeira. Em 1845, foi publicado em Londres o livro Madeira Flowers, Fruits, and Ferns: A Selection of the Botanical Productions of the Island, Foreign and Indigenous / Drawn and Coloured from Nature, com 29 aguarelas de flores, frutos e fetos, pintados por Jane Wallas Penfold a partir da observação direta das plantas na Quinta da Achada. Segundo Gerald Luckhurst, Jane Penfold foi a responsável pela introdução das estrelícias (Strelitzia reginae) nos jardins da Madeira. A filha de Jane Penfold, Augusta J. Robley, deu continuidade à paixão pelas plantas e pelos jardins da quinta. Em 1881, a quinta foi adquirida por outra família inglesa, os Lindon-Vinard. Os atuais proprietários da quinta descendem de Sylvie Eliane Gabrielle Vinard, que se casou com John Reeder Blandy. A família Blandy habitou a quinta entre 1959 e 1997. De acordo com Maria Lamas, noutros tempos o notável eucalipto da Quinta da Achada era o ponto de referência para as embarcações que se aproximavam do Porto do Funchal, pois indicava-lhes o centro da baía, local seguro para fundear os barcos. A quinta possui uma coleção de plantas muito diversa, com árvores centenárias, como é o caso da magnólia, perto da varanda da casa. De acordo com Raimundo Quintal, a riqueza florística é excecional com mais de seiscentas plantas diferentes, sendo notáveis as canforeiras (Cinnamomum camphora), os pinheiros-das-canárias (Pinus canariensis), a araucária-de-bidwill (Araucaria bidwillii), o carvalho (Quercus x hispanica), as mangueiras (Mangifera indica), e mais de uma dezena de espécies de palmeiras. Em 2000, a quinta foi convertida num hotel, com a designação de Quinta Jardins do Lago. Nesse período foi introduzida uma coleção de cicas, palmeiras e bromélias.
A quinta tem atualmente uma área de 2 ha, dos quais 1,4 ha são de área de jardim. O hotel tem entrada a partir da rua e antecede a antiga casa da quinta à qual está ligado. Do lado direito da entrada do hotel, pode-se aceder ao jardim através de um caminho de seixo rolado que conduz à frente da antiga casa principal da quinta e que continua até ao fundo do jardim, tenho do lado direito o arboreto com uma monumental canforeira, bambus, fetos e palmeiras e o viveiro de animais e do lado esquerdo uma zona de estadia pavimentada com desenho. Os jardins envolvem a casa a sul e a nascente e possuem uma rede de caminhos de traçado predominantemente geométrico. O tanque de armazenamento de água para a rega da quinta é alimentado pela água que é captada na ribeira de Santa Luzia, sendo conduzida através da levada de Santa Luzia. Os jardins estão estruturados por dois eixos principais perpendiculares. O primeiro tem com orientação poente-nascente, passa em frente da casa e prolonga-se até ao jardim do lago – este tem a forma da ilha da Madeira - e constitui um miradouro com vasta panorâmica sobre a ilha. No topo norte do jardim existe outro tanque, rodeado de palmeiras, dragoeiros e cicas. Junto ao limite nascente do muro da quinta, fica um lago com a forma da ilha da Madeira, com vista notável para o Funchal. Este eixo serve ainda a piscina e os novos jardins a nascente da casa. O segundo eixo corre perpendicularmente ao primeiro, acompanhando a fachada nascente da casa onde se encontra uma zona de estadia em cujo pavimento estão inscritas as datas de 1750, 1836, 1881, 1958 e 2000. A partir daqui o caminho é coberto por uma latada revestida por diversas trepadeiras com florações exuberantes, como a trepadeira-de-jade (Strongylodon macrobotrys) e a tumbérgia (Thunbergia sp.). Outras trepadeiras interessantes da coleção de plantas são a glicínia (Wisteria sinensis), a estrela-azul (Petrea volubilis), e as gaitinhas (Pyrostegia venusta). Tendo o jardim situado em frente da casa do lado direito e a piscina do lado esquerdo. O jardim da casa tem uma exposição a sul. A casa tem dois pisos, fachada com grandes janelas e portas servidas por um caminho largo a todo o comprimentos da casa, e imediatamente a seguir, surgem a zona de estadia pavimentada a calçada, dois terraços relvados, ligados por escadas, e enquadrados por árvores de grande porte como a bauínia, palmeiras, dragoeiro, carvalho, entre outras.
Inventário: Sónia Talhé Azambuja - março de 2020.
Quinta dos Jardins do Lago
(consultada a março de 2020)
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