Parque Termal das Termas da Curia

Centro | Anadia

Parque Termal das Termas da Curia

As Termas da Curia localizam-se no concelho de Anadia e integram o Triângulo Termal da Bairrada, constituído por Vale da Mó, Curia e Luso. A notoriedade desta estância termal, uma das mais antigas do país, dependia não apenas das suas águas medicinais, mas também do seu prestígio como local de lazer e repouso. Como refere Armando Narciso (1890-1948), médico hidrologista e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no início dos anos 1940, as termas ‘possuam atractivos para chamar o grande mundo, fazer delirar a fantasia, corresponder ao sonho de quem as procura, esperando encontrar o paraíso’ (1941).

As virtudes terapêuticas e medicinais das águas da Curia foram descobertas no último quartel do século XIX (1863) pelo engenheiro francês La Chapelle, aquando da construção da linha férrea do Norte. La Chapelle teria aplicado as águas da poça da Curia da Mata, nascente utilizada por residentes da região em doenças de pele e reumatismo, no tratamento de ‘um mal que tinha nas pernas’. Os bons resultados obtidos, rapidamente, originaram uma grande procura de pessoas que aqui procuravam a cura para as suas doenças. Face ao crescimento da fama curativa de tais águas, Luís Navega, então estudante de medicina, decidiu investigar a sua qualidade terapêutica, tendo em 1897, solicitado um estudo sobre estas águas ao químico e docente na Escola Industrial de Coimbra, Charles Lepierre. Este estudo confirmou a riqueza mineral destas águas e a sua ação no tratamento de doenças diversas como as metabólico-endócrinas, cálculos renais, infeções urinárias, hipertensão arterial, doenças reumáticas e musculo-esquelécticas. Deslumbrados pelas virtudes destas águas e suas aplicações terapêuticas, alguns notáveis da região, dos quais se destacam Maria Emília Seabra de Castro, Albano Coutinho (1848-1935) e Luís Navega (entretanto já formado em medicina e que, entre 1902 e 1938, foi o primeiro diretor clínico desta estância termal), fundam a Sociedade das Águas da Curia com escritura de constituição outorgada em 24 de fevereiro de 1900. Com o objetivo de transformar a nascente que brotava espontaneamente do solo numa estância moderna e elegante, à imagem das conhecidas estâncias termais da Europa, solicitam um alvará de exploração das águas da Curia. Este alvará é concedido pelo rei D. Carlos I, em 1902, e um ano depois, em 1903, as termas abrem formalmente ao público. Mas as propriedades curativas das águas da Curia foram descobertas muito mais cedo havendo referências ao tempo dos romanos. Nomeadamente, António Jorge Barata, autor da obra ‘Roteiro das Termas de Portugal’ (1999), que refere que a zona onde se situa hoje a Curia designava-se por Aquae Curiva que significa ‘água que cura’, reforçando a possibilidade da origem etimológica da palavra Curia estar relacionada com as águas medicinais.

Para a criação das instalações necessários para o funcionamento da exploração termal, foi expropriada uma área de 72 hectares, abarcando as três nascentes de águas medicinais: Principal, Férrea e Olhos. Para além do edifício termal, foram construídos hotéis e pensões, criados acessos viários e um espaço de recreio que promovesse divertimentos. A estância termal da Curia que hoje conhecemos é o resultado de uma cuidada intervenção que teve diferentes momentos de execução. Raul Lino, Jaime Inácio dos Santos, Norte Júnior, Luís Benavente, Cottinelli Telmo, Cassiano Branco são alguns dos ícones da arquitetura do país, autores do conjunto edificado aqui existente, constituindo algumas edificações obras notáveis, com considerável valor artístico.

O Parque das Termas da Curia é constituído por uma área vedada de cerca de 14 hectares, no interior da qual se situam diversos equipamentos necessários ao seu funcionamento. Jacintho de Mattos foi chamado a projetar o parque desta estância no início do século XX. Contudo, refere Teresa Portela Marques, a primeira escolha para o delineamento do parque recaiu, em 1903, e por iniciativa de Maria Emília Seabra de Castro, sobre Ernest Pissard, na altura jardineiro na Câmara Municipal de Lisboa. Esta autora refere, também, que o traçado de Jacintho de Mattos para este parque, como acontece noutros parques da sua autoria, é composto pelo chamado estilo misto – um traçado de base paisagista a dominar toda a área do parque e um jardim formal associado aos edifícios. No acesso ao Parque por nascente, somos guiados por uma larga alameda de plátanos que inicia na Estação de Comboios da Curia, e se estende por uma longa avenida até à entrada principal do parque, o que confere magnificência no acesso a este local. Aqui chegados, ao entrar no parque, esta mesma alameda de plátanos conduz-nos à esquerda, para sul e poente, até ao embarcadouro de barcos e gaivotas do lago. Associado a este lago de margens sinuosas, que domina todo o espaço central do parque, Jacintho de Mattos cria um percurso circundante, umas vezes próximo outras vezes afastado do espelho de água, gerando, de acordo com Teresa Portela Marques, efeitos surpresa e uma multiplicidade de pontos de vista e espaços de estar. Na grande ilha central do lago, encontram-se os campos de ténis, um parque infantil (construído recentemente) e a Casa de Chá (que se encontra, atualmente, desativada). À direita, para norte, localizam-se as Termas - estabelecimento termal e buvette - diversos hotéis - Hotel da Boavista, Grande Hotel da Curia e Hotel das Termas - o Casino e os espaços comerciais, café e esplanada. Nesta zona do parque, Jacintho de Mattos, para além do troço de paisagem naturalizada junto ao lago, concebeu um jardim com características formais para a frente dos edifícios do balneário e buvette, projetados pelo arquiteto Jaime Inácio dos Santos. O relvado tem no centro, um lago em cimento armado, também de formas clássicas, com repuxo, canteiros com flores e está envolvido por orlas e bosquetes de arbustos e árvores. Junto à entrada do parque. Depois de percorrida a alameda dos plátanos, à esquerda, encontra-se o Palace Hotel, da autoria do arquiteto Norte Júnior com o seu parterre frontal.

Proteção legal: em estudo

Inventário: Ana Catarina Antunes em março de 2020

inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO

Parque Termal das Termas da Curia

(consultada em março de 2020):
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=26444
BARATA, A. Jorge (1999). Roteiro das Termas de Portugal. Lisboa: Caminho.
Dionísio, Sant Anna (coord.) (1993). Guia de Portugal Beira, Beira Litoral, vol. III-Tomo I, 3.ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
MARQUES, T. Portela (2009). Dos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de Oitocentos ao modernismo na arquitectura paisagista em Portugal. Tese de Doutoramento, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa.
RAMOS, A. Rita (2005). O Termalismo em Portugal: Dos factores de obstrução à revitalização pela dimensão turística. Tese de Doutoramento, Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial, Universidade de Aveiro.
ROSMANINHo, Nuno (2004a). A Sociedade das Águas da Curia na primeira metade do século XX. Estudos do Século XX.
SIMÃO, M. Cristina (1994). A Estância Termal da Curia: História e Arte (1ª parte), Aqua Nativa, n.º 7, pp. 59-71.

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