Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

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Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra localiza-se no centro de Coimbra, na parte alta, exteriormente à antiga muralha da cidade e estende-se por uma área com cerca de 13,5 ha. Atualmente é uma Unidade de Extensão Cultural e de Apoio à Formação da universidade que tem como missão a investigação, a conservação da biodiversidade, a educação e divulgação de ciência, com especial enfoque na sensibilização para o conhecimento e importância da diversidade vegetal, das alterações climáticas e da utilização sustentável de recursos.

O jardim botânico integrou a candidatura do sítio "Universidade de Coimbra, Alta e Sofia" à inscrição na Lista do Património da Humanidade da UNESCO que se confirmou em 2013. Fundado em 1772 no âmbito da reforma pombalina da universidade, a sua história e a da própria universidade confundem-se. Em 1731, já D. João V tinha anunciado a sua construção, mas efetivamente foi com a outorga dos Estatutos da Universidade pelo Marquês de Pombal naquele ano que o ‘Horto Botânico’ se vai tornar realidade. Foram criadas duas novas faculdades: Matemática e Filosofia Natural que, conjuntamente com a Medicina, passaram a constituir as chamadas “faculdades naturais” com importante reflexo nas faculdades de Direito e de Teologia. Para a faculdade de Filosofia foi determinada construção dos Gabinetes de História Natural e de Física Experimental, do Laboratório Químico e do Jardim Botânico. Em 1911, as faculdades de Matemática e de Filosofia Natural foram fundidas e deram origem à Faculdade de Ciências.

Em 1773, os naturalistas italianos Domenico Vandelli (1735-1816) e Dala-Bella e o jardineiro Júlio Mattiazzi, vindo do Jardim de Pádua, apresentaram um projeto para o jardim o qual foi rejeitado pelo Marquês de Pombal por ser demasiado grandioso e dispendioso. Vandelli em 1768 tinha fundado o primeiro Jardim Botânico português, na Ajuda, em Lisboa, veio a ser também o primeiro diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, cargo que desempenhou até 1791. O risco do jardim foi refeito e as obras iniciaram-se no ano seguinte após a compra de uma parte da cerca dos Marianos, ao que foi acrescentada parte da cerca do Colégio de S. Bento. O primeiro terraço ficou concluído em 1794 tendo as restantes obras decorrido ao longo da primeira metade do século XIX, até ao ano de 1867. Em 1862, o jardim voltou a ser ampliado, com a anexação da mata.

O sucessor de Vandelli foi Félix de Avelar Brotero (1749-1828) que, em 1791, foi convidado para regente da cadeira de Botânica e Agricultura e assumiu também a direção do jardim. Cristina Castel-Branco (2014) conclui que a intervenção de Vandelli no jardim ficou reduzida à construção do terraço - o chamado ‘Quadrado’ - tendo sido Brotero quem instalou o jardim inspirado no trabalho de Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) no Jardin des Plantes em Paris citando vários textos de Brotero relativos às suas ideias sobre a conceção do jardim botânico e dizendo que ele juntou aqui três mil espécies de plantas. Henrique do Couto dAlmeida, iniciou a direção em 1854 até 1867, depois de António Vidal (1849-1853). No seu tempo construíram-se grandes reservatórios de água destinados à rega e, em 1859, a Estufa Grande, de acordo com o projeto de José Pezerat, concluída em 1865 e dirigida por Edmond Goëze (1838-1929), jardineiro-chefe do jardim a partir de 1866 até 1873. A publicação do primeiro Index Seminum data de 1868, por iniciativa de Edmond Goëze. Em 1873, tomou posse Júlio Henriques, fundador da Sociedade Broteriana, e iniciou-se um novo período do jardim e da Botânica em Portugal. Ele foi um inovador que se afirmou como um defensor do darwinismo e intensificou as permutas de plantas e sementes. Em 1918, o botânico Luís Carrisso sucedeu a Júlio Henriques e, manteve-se até à sua morte em 1937, enriquecendo o jardim com novas plantas, nomeadamente com plantas das ex-colónias africanas, particularmente de Angola e criando novas áreas visitáveis ao público, onde foram plantadas grandes árvores e plantas ornamentais. Entre 1942 e 1974, a direção foi assumida por Abílio Fernandes que acompanhou o último período construtivo do jardim, sobretudo entre 1940 e 1960, em que houve intervenções significativas no jardim, através das denominadas ‘Obras de arranjo e aformoseamento do Jardim’ da Comissão Administrativas das Obras da Cidade Universitária de Coimbra. Data do seu tempo, por exemplo, a construção da Estufa Fria e a remodelação do quadrado central de acordo com a proposta de Cottineli Telmo e Armand Bellinghen de 1945 que incluiu a colocação da grande fonte no lago central, sendo diretor do jardim Abílio Fernandes. C. Castel-Branco (2014), atribui-lhe o novo arranjo do jardim precisando que ele respeitou três árvores que haviam sido plantadas por Brotero na altura da sua intervenção no Quadrado: a Cunninghamia sinensis (caída em 2013), a Cryptomeria japonica e a Erythrina crista-galli.

Junto ao jardim, a norte do jardim, corre o aqueduto de São Sebastião - ou mais propriamente os “arcos do jardim” - mandado edificar cerca de 1570 por D. Sebastião, obra atribuída a Filipe Terzi que terá aproveitado o traçado já existente de um aqueduto romano e também o Colégio de São Bento que pertencia à Ordem e à Congregação de São Bento e foi fundado por Frei Diogo de Murça, monge jerónimo e comendatário do mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto. As suas rendas permitiram fundar três colégios em Coimbra, sendo este um deles. A construção do colégio iniciou-se no século XVI, mas a igreja que lhe ficava anexa foi sagrada só em 1634. Esta foi demolida na década de 1930 para dar lugar ao novo projeto da universidade. As pedras da abóboda da capela-mor estiveram armazenadas durante anos e recentemente foram transladadas para o jardim. O colégio foi a casa de estudos de Artes e de Teologia até à extinção das ordens religiosas em 1834. Entretanto, em 1772, uma parte da cerca tinha sido destinada à construção do Jardim Botânico. O colégio teve vários usos até que na década de 1930 e, posteriormente, na década de 1950, foi alvo de intervenções por parte da Comissão Administrativas das Obras da Cidade Universitária de Coimbra (1941-1969) e aí esteve instalado o Instituto Botânico Dr. Júlio Henriques criado em 1925, entretanto extinto, e integrado em 2017 no Departamento de Ciências da Vida que hoje ocupa o edifício do colégio beneditino continuando a albergar o notável herbário.

Ilídio de Araújo (1962) faz a seguinte descrição do Jardim Botânico de Coimbra: “Os jardins propriamente ditos são formados por seis terraços dos quais cinco de forma rectangular envolvem por três lados o sexto, de planta quadrada, o qual ocupa uma posição inferior e foi, como dissemos, o primeiro a ser criado. Este tem ao centro um tanque circular, e à volta desenhando figuras concêntricas, os canteiros de plantação. Do lado do vale eleva-se um muro que fecha a vista por esse lado, permitindo-a apenas por duas janelas que nele se rasgam nos dois extremos e por um portão que através de umas escadas dá ligação para a mata situada inferiormente. Os terraços que contornam este jardim pelos restantes três lados, e lhe ficam a nível superior, são guarnecidos com parapeitos em que sectores vasados alternam com outros em pleno, rasgados superiormente em alegretes e com assentos de pedra. Ao centro destes três parapeitos abrem-se portões que dão acesso ao terraço inferior através de escadas duplas.”

Acede-se ao jardim a partir da através de um portão monumental, onde a estátua de Brotero nos recebe (Soares dos Reis, 1877). No jardim existem ainda monumentos a Júlio Henriques da autoria de Barata Feyo e a Luís Carisso da autoria de José Santos. Uma larga avenida corre a todo o comprimento o gradeamento do jardim, sobrelevada em relação em relação ao patamar superior com os sues canteiros destinados à sistemática das plantas a que se acede por duas grandes escadas e onde ainda permanecem árvores centenárias monumentais. Junto aos Arcos do Jardim, próximo do antigo colégio de São Bento, encontra-se uma outra entrada no jardim que conduz a uma ampla escadaria que permite aceder ao patamar superior, às estufas e ainda ao ‘Quadrado’. No extremo oposto, junto ao Seminário Maior, existe um outro portão de entrada. O ‘Quadrado ‘com o seu tanque ao centro que no lado poente apresenta um arco com portão que dá acesso à mata que ocupa cerca de 2/3 da área do jardim e abriu ao público em 2017, criando uma nova ligação entre a alta e a baixa de Coimbra.
Entre 2008 e 2010, estando o jardim sob a direção de Helena Freitas, foi apresentada uma candidatura a um projeto EEA Grants pela AJH - Associação Portuguesa dos Jardins Históricos com vista à recuperação de sistemas hidráulicos. Em 2013, a candidatura ‘Universidade de Coimbra. Alta e Sofia’ à inscrição na Lista do Património Mundial da UNESCO obteve sucesso fazendo o Jardim Botânico parte da candidatura. O dossier de candidatura é particularmente rico, denso e bem documentado, embora de acesso algo difícil pelo que se complementa a presente ficha com uma transcrição de uma parte referente ao Jardim Botânico.

UNIVERSIDADE DE COIMBRA – Universidade de Coimbra, Alta e Sofia. Candidatura à inscrição na Lista do Património Mundial, 2013. VOLUME – PLANOS DIRETORES Jardim Botânico, pp. 315-335, https://whc.unesco.org/uploads/nominations/1387.pdf

Caracterização histórica
O compromisso assumido pelo bispo-conde D. Francisco de Lemos durante a Reforma Pombalina determinou o estabelecimento de um espaço dedicado ao cultivo de diversas espécies vegetais, fundamental para a implementação e desenvolvimento dos estudos no campo das Ciências Naturais e da Medicina: o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.

Administrado a partir do Gabinete de História Natural, o Jardim Botânico veio a ocupar uma secção considerável da cerca do Colégio de São Bento, entregue à Universidade pelos colegiais beneditinos e alvo de uma profunda intervenção.

Rejeitado o primeiro desenho arquitectónico devido à extravagância e opulência das construções e equipamentos, mais adequadas a príncipes do que a estudantes, segundo a opinião do Marquês de Pombal, foi delineado um segundo projecto menos ambicioso que teria início logo em 1774, sob a orientação de Domenico Vandelli e Dalla Bella, ambos naturalistas italianos e professores na Universidade de Coimbra, embora o primeiro tivesse sido responsável pelas obras do Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa.

Nos quatro anos seguintes, os principais trabalhos incidiram na regularização dos terrenos, com o aproveitamento dos entulhos provenientes das demolições do castelo da cidade e do devoluto Colégio de Jesus, para a construção das estufas e dos tabuleiros destinados à plantação das espécies vegetais.

Entretanto, com a “Viradeira”, da qual resultara o afastamento do ministro plenipotenciário de D. José e do Reitor-Reformador, as obras continuariam mas a um ritmo menos célere. Na década de 1790, estava terminado o terrapleno inferior, com seus lanços de escadas e lago, como consagra a lápide evocativa sobre o portão de entrada do “quadrado central”, parte considerável das estruturas de abastecimento de águas e a grande estufa, da autoria de Manuel Alves Macomboa, ambas fundamentais ao projecto em curso.

Reencaminhado para o governo da Universidade, D. Francisco de Lemos iria dedicar-se durante o seu segundo reitorado à conclusão das obras que iniciara anos antes no Jardim Botânico. A década de 1800 ficou assinalada com a conclusão de algumas estruturas arquitectónicas, desenhadas por Gregório Queirós, e a aquisição de parte de um terreno pertencente à cerca do Colégio de São José dos Marianos.

Durante o período em que o Bispo-Reitor esteve ausente de Coimbra, no seguimento das Invasões Francesas, as obras seriam suspensas, reiniciando- se somente em 1814. Até 1821, ano da saída de D. Francisco de Lemos do governo universitário, foram concluídas as terraplanagens entre o corredor central e o superior, o muro exterior, com o portal desenhado por José do Couto dos Santos Leal. A colocação deste, assim como dos restantes portões de ferro, aconteceria nos anos seguintes.

Em 1854, o engenheiro Pezerat apresentava o projecto para a actual estufa, construção concluída em 1865, e que marca o avanço tecnológico da utilização do ferro e do vidro na arquitectura em Coimbra. Durante este hiato temporal seriam concluídos os lanços de escadas no flanco sul e os pilares com respectivos gradeamentos em todos os planos do jardim.

No final da década de 1860, mais precisamente em 1868, procedia-se à incorporação do que restava da cerca do extinto Colégio no Jardim Botânico, correspondente à actual mata. Ficava assim definida a área total em quase doze hectares.

Naquele mesmo ano era publicado o primeiro catálogo de sementes, acontecimento de suma importância, pois iniciava a permuta de várias amostras com instituições congéneres em todo o mundo, actividade intensificada após Júlio Henriques assumir a direcção do organismo científico em 1873.

Com a nomeação de Luís Carrisso para a direcção do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra em 1918 registou-se um aumento do cultivo das espécies provenientes das colónias portuguesas em África e foram programadas novas obras de beneficiação nas áreas existentes. O ambicioso plano para a construção da Cidade Universitária de Coimbra não deixaria de contemplar de igual forma o histórico Jardim Botânico. As obras, efectuadas entre 1944 e 1949, sob o acompanhamento do seu director, Abílio Fernandes, incidiram na construção da fonte do quadrado central, na colocação de bancos em cantaria, na edificação de uma estufa fria, na renovação dos acessos entre as várias secções do jardim e da mata, no assentamento da estátua de Júlio Henriques e do medalhão votivo de Luís Carrisso.


Caracterização artística e arquitectónica
Além de a grande riqueza do Jardim Botânico realçar, obviamente, o património biológico, com as suas milhares e antigas espécies vegetais, é possível contemplar múltiplas obras arquitectónicas e escultóricas que enobrecem os vários espaços constituintes.

A necessidade de resguardar o jardim levou à edificação de um imponente muro, constituído por fortes pilares de cantaria e grades de ferro, delimitando o interior em toda a sua extensão. O acesso é feito a partir de vários portões, quatro directamente ligados ao jardim e um quinto à mata, com entrada a partir da Ínsua dos Bentos. O portal principal, aberto na face sudeste, apresenta dois fortes pilares compostos por colunas dóricas, com frontão interrompido e coroado com urnas.

Entre as estruturas arquitectónicas erguidas para apoio e desenvolvimento de algumas espécies vegetais, destaca-se a estufa grande, uma construção de ferro e vidro de feição neogótica, da autoria do engenheiro Pezerat (e que viria a substituir a de Manuel Alves Macomboa), a estufa fria e a casa do guarda, estas duas últimas edificadas durante a década de 1940.

Evocando o nome das personalidades ligadas à direcção deste organismo universitário, um conjunto de esculturas enobrece os diferentes recantosdos espaços do jardim, como a estátua de Avelar Brotero, executada em 1887 por Soares dos Reis, a de Júlio Henriques, da autoria de Barata Feyo, de 1951, e o busto de bronze de Luís Carrisso, de José Santos e datado de 1948. Existem ainda duas figuras alegóricas, uma representando a Flora, executada por Martins Correia em 1950, colocada na Estufa Fria, e uma composição feminina colocada num fontanário, da autoria de João Machado.

A sobrevivência de alguns elementos arquitectónicos do antigo Colégio de São Bento, como a capela existente na mata do Jardim Botânico, confere ao local um carácter romântico historicista.

Caracterização botânica
Com a reestruturação pombalina da Universidade, na segunda metade do século XVIII, iniciou-se um extraordinário enriquecimento do Património Científico, Cultural e Biológico, inicialmente destinado, particularmente, ao cultivo de plantas medicinais, como, aliás, é referido numa carta que o Marquês de Pombal dirigiu ao Reitor da Universidade de Coimbra (Francisco de Lemos), em 15 de Outubro de 1773.

Em 1774, o Marquês de Pombal enviou a Coimbra o jardineiro do Real Jardim da Ajuda (Lisboa), Julio Mattiazi, como responsável pelo cultivo das plantas no Jardim Botânico. As primeiras plantas vieram do Real Jardim da Ajuda, tendo sido enviadas para Coimbra por via marítima e acompanhadas por João Rodrigues Vilar, que foi o primeiro jardineiro do Jardim Botânico de Coimbra.

Iniciou-se, assim, a relevante fitodiversidade do Jardim Botânico de Coimbra, que implicou, por razões óbvias, um enriquecimento da zoodiversidade não só da área do Jardim, como também em toda a zona circundante.

O Jardim Botânico ocupa uma vasta área (mais ou menos 13,5 ha.) do Vale das Ursulinas, onde corre um pequeno regato que nasce em Celas, e é constituído por duas zonas fundamentais: uma, na parte superior do vale, ajardinada (parte pública) e outra na parte inferior do vale, mais arborizada (a Mata).

A primeira, a área mais formal do Jardim, é constituída por alguns terraços em socalco. No socalco inferior está o designado “Quadrado Grande”, que constitui a parte mais primitiva do Jardim. Aqui existem três relevantes árvores que datam dos primórdios do Jardim, em que Brotero foi Director (1791 - 1811). São o abeto-da-china [Cunninghamia lanceolata (Lamb.) Hook. F.], o cedro-do-japão (Cryptomeria japónica D. Don) e uma eritrina (Erythrina crista-galli L.). Estão ainda em óptimo estado e, por isso, constituem um valiosíssimo património Biológico da Universidade.

A maioria das árvores mais antigas e de grande porte foram plantadas entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, durante a direcção de Júlio Henriques (1872 - 1918). As árvores que atingem grande altura, mas que se situam na parte pública do Jardim, isto é, fora da Mata, não atingem idades consideráveis, pois acabam por morrer electrocutadas por funcionarem como pára-raios. No último meio século morreram dessa maneira no Jardim Botânico, três enormes árvores, que se evidenciavam muito bem das outras, não apenas por serem muito altas, mas também porque se encontravam nos socalcos mais elevados do Jardim: uma “esquia” e a mais alta palmeira do Jardim (Washingtonia robusta H. A. Wendl.), no socalco junto à estufa grande, em Maio de 1986; uma alta araucária-de-norfolk [Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco], no socalco das Gimnospérmicas, junto aos Arcos do Jardim, em 1983, e uma Grevillea robusta A. Cunn. (carvalho--sedoso), que se encontrava também no socalco das Gimnospérmicas, junto à estátua de Brotero, também em 1986.

Actualmente, a árvore mais alta do Botânico talvez seja um exemplar de Araucaria rulei F. Muell. Ex Lindl., próxima do portão da rua Vandelli, com mais de 50 m de altura, logo seguida de um alto eucalipto (ca. 50 m), que é a árvore de maior biomassa do Jardim (Eucalyptus obliqua L’Hér.), ao lado das escadas que dão para o Portão do Seminário e, do outro lado destas escadas, está um outro extraordinário exemplar de eucalipto (Eucalyptus viminalis Labill.); outro enorme eucalipto (Eucalyptus cornuta Labill.) está no canto junto à confluência da Alameda Júlio Henriques com os Arcos do Jardim e, muito próximo deste, o eucalipto de maior diâmetro do Jardim (Eucalyptus globulus Labill.); e, igualmente referenciáveis, são os altos, belíssimos e odoríficos (cheiro a limonete) eucaliptos de casca cinzenta (Eucalyptus citriodora Hook.). É evidente que não cabe numa notícia destas referir todas as espécies lenhosas do Jardim (13,5 ha.), particularmente da Mata.

Além das poucas espécies de árvores citadas, há muitíssimas ervas e arbustos relevantes, pois, no Jardim a fitodiversidade herbácea é, como é natural, muito mais elevada que a dendrológica. Algumas dessas plantas são espécies vulneráveis ou em risco de extinção [ex.: Narcissus willkommii (Samp.) A. Fernandes, do Algarve e Sul de Espanha] ou endémicas (ex.: Scilla madeirensis Meneses da Madeira).

Além deste Património Vegetal, no Jardim Botânico habitam muitos animais, como os esquilos europeus (Sciurus vulgaris L.). toupeiras (Talpa europaea L.), morcegos, pequenos roedores, tendo já sido vista uma raposa (Vulpes vulpes L.), uma doninha (Mustela nivalis L.), coelhos--bravos (Oryctolagus cuniculus L.) e muitas aves. Das cerca de quatro dezenas de aves assinaladas, umas são sedentárias, outras invernantes e algumas nidificantes. Claro que também há anfíbios (rãs, sapos e salamandras) e répteis [lagartos e cobras, entre as quais, a enorme cobra-escada (Elaphe scalaris Schinz)].

Além de toda esta biodiversidade, há a biodiversidade “inconspícua” (invisível), como os invertebrados. Um exemplo disso foi a descoberta recente (2005 - 2006) de quatro espécies novas para a ciência de aracnídeos, algumas ainda não publicadas (Nemesia bacelarae Decar, Cardoso & Selden; Malthonica oceanica Barrientos & Cardoso; Sintula iberica Bosmars; Harpactea sp. Nov.).

O Jardim Botânico de Coimbra, como grande parte dos jardins botânicos (cerca de 2.500) é, pois, um manancial de biodiversidade (vital para a nossa espécie), uma enorme “fábrica” de biomassa (fotossíntesse), com um elevado contributo na despoluição ambiental (consumo de CO2 pela fotossíntese) e excepcional purificador do ar (pelo enorme volume de O2 produzido pela fotossíntese). Além disso, o Jardim Botânico de Coimbra faz parte da rede internacional de jardins botânicos [(Botanic Garden Conservation International (BCGI)], onde se estima que existem cerca de 100.000 espécies de plantas vivas, algumas em vias de extinção, e cerca de 250.000 preservadas em bancos de sementes. Estes jardins botânicos são, pois, extraordinárias reservas de biodiversidade e relevantes recursos para a respectiva conservação. Por outro lado, nos jardins botânicos faz-se investigação científica, fundamentalmente aplicada, e educação ambiental abrangente (não tradicional), com dimensão ecológica, económica, cultural e social.

O Jardim Botânico de Coimbra é o jardim botânico de Portugal continental, não só de maior área, como também o mais conhecido internacionalmente. É considerado dos jardins botânicos com credibilidade, isto é, não só as sementes que ele envia por permuta possuem vitalidade, como também a sua determinação dos taxa é exacta. Assim, está incluído no grupo de jardins botânicos de elevada relevância, como os Royal Botanic Gardens de Kew (Great Britain), o Jardin Botanique de Genève (Suisse), Museum e Botanischer Garten der Universitat Wien (Austria) por exemplo. É, também, um dos jardins botânicos mais antigos da Europa (com mais de 2 séculos) e de grande beleza e riqueza arquitectónica.

Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 6 março 1996

Monumento Nacional – Inscrição na lista do Património Mundial (UNESCO), 2013

Inventário: Ana Catarina Antunes e Teresa Andresen em março de 2020

inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

(consultada em março de 2020)
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73924
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2597
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1379033
https://whc.unesco.org/uploads/nominations/1387.pdf
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edições Inapa, 2002. pp. 96-100
GUIA DE PORTUGAL, Beira, Beira Litoral, vol. I ii-Tomo i, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 298-302
UNIVERSIDADE DE COIMBRA – Universidade de Coimbra, Alta e Sofia. Candidatura à inscrição na Lista do Património Mundial, 2013. VOLUME – PLANOS DIRETORES Jardim Botânico, pp. 315-335
https://whc.unesco.org/uploads/nominations/1387.pdf

Calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra