Jardim da Manga

Centro | Coimbra

Jardim da Manga

O Claustro da Manga situa-se no centro da cidade de Coimbra, por trás da Câmara Municipal. Pertencia, juntamente com o Jardim da Sereia, ao Mosteiro de Santa Cruz, fundado em 1131 no exterior das muralhas da cidade. Segundo a tradição, foi buscar o nome ao traçado que foi feito na manga da capa do rei D. Manuel I, pelo próprio.

O mosteiro, do qual hoje resta a igreja e o claustro do Silêncio e a fonte do antigo claustro da Manga e outros edifícios adjacentes, hoje ocupados pela Câmara Municipal e pelo café Santa Cruz, foi criado pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e de seu filho D. Sancho, que aqui se encontram sepultados. A sua construção decorreu ao longo de praticamente um século, de 1131 a 1228, tendo sido, posteriormente, alvo de numerosas obras de reconstrução. A principal ocorreu no reinado de D. Manuel I, na primeira metade do século XVI, e compreendeu a reconstrução do claustro do Silêncio e o aumento do mosteiro em torno de um novo claustro, o claustro da Manga. A qualidade das intervenções artísticas do mosteiro particularmente as realizadas na época manuelina e a importância que teve nos primeiros tempos da monarquia portuguesa, tanto no plano político-institucional como no cultural, fazem desta casa monástica um dos principais monumentos históricos e artísticos do país.

Pinho Leal, na obra ‘Portugal Antigo e Moderno’ (1873), e trinta e cinco anos depois de todo o conjunto do Mosteiro de Santa Cruz ter sido entregue à Câmara Municipal de Coimbra em 1839, informa que o mosteiro serve ‘de administração do correio e outras repartições. A cêrca foi vendida por uma tuta e meia (e o dinheiro devorado). É, pois, hoje propriedade particular, e uma das melhores cousas de Coimbra, e das maiores, mais bellas e melhores cêrcas das ordens religiosas de Portugal. Suas ruas, escadarias, lagos, fontes, cascatas, etc, tudo era magestoso e magnifico, parecendo mais a quinta de recreio de um manarcha, do que a cêrca de um convento.’ Na década seguinte, na sequência das obras previstas no ‘Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz’, elaborado em 1885, designadamente, o alargamento da rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, no prolongamento da Avenida Sá da Bandeira até à baixa da cidade, o claustro da Manga foi exposto à cidade, com a demolição da ala norte do edifício.

Cristina Castel-Branco, na obra ‘Jardins de Portugal’, refere-se à fonte da Manga como uma obra de escultura e hidráulica de traçado completamente inovador que marcava o centro do claustro, inigualável da nossa arte paisagística do Renascimento. A autora esclarece, ainda, que a construção do Claustro da Manga terá sido iniciada em 1530 por João de Ruão. Deste jardim resta apenas o templete constituído por oito colunas coríntias que suportam uma abóboda esférica encimada por um lanternim sobre um tanque de base circular com chafariz central e quatro pequenas capelas cilíndricas ligadas ao corpo central por arcobantes e passadiços rodeadas por pequenos tanques de forma retangular. Do templete central saem quatro conjuntos de degraus, decorados com gárgulas e animais e ladeadas pelos tanques parcialmente envoltos em canteiros quadrangulares. Os canteiros são relvados e delineados por Buxo (Buxus sempervirens). Os tanques, numa cota inferior em relação ao templete, recebem água da mina que é jorrada pelas gárgulas.

Em 1936 iniciaram-se as Obras de Restauro do Claustro da Manga, uma execução da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), tendo ficado concluídas em 1940. Em fevereiro de 1999 foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal de Coimbra e a DGEMN para a realização das obras de conservação e beneficiação do Claustro da Manga.

Monumento Nacional, Decreto nº 23 967, DG, 1ª série, n.º 130 de 05 junho 1934 / ZEP, Portaria, DG, 2ª série, n.º 44 de 21 fevereiro 1958

A igreja de Santa Cruz foi reconhecida como Panteão Nacional pela Assembleia da República, em diploma publicado no DR, I Série, 22-08-2003, Lei n.º 35/2003

Inventário: Ana Catarina Antunes em março de 2020

inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO

Jardim da Manga

(consultada em março de 2020)
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5165
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4234
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/69813
https://www.visitportugal.com/pt-pt/NR/exeres/307DCE89-EA18-4449-AFB6-B09E597FE6E1
ALARCÃO, Jorge de - A evolução urbanística de Coimbra: das origens a 1940. Actas do I Colóquio de Geografia de Coimbra, N.º Especial de ‘Cadernos de Geografia’, 1999.
https://www.uc.pt/fluc/depgeotur/publicacoes/Cadernos_Geografia/Numeros_publicados/CadGeoNespecial99/artigo01
BASTO, Ana Rita - Da inventariação à salvaguarda do património paisagístico. Tese de Mestrado em Arquitetura Paisagista, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2015.
CALMEIRO, Margarida Relvão - Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra. Revista ‘Monastic architecture and the city’ cescontexto, debates, n.º 6, junho 2014, pp. 227-240. Coimbra: Centro de estudos Sociais, 2014.

CASTEL-BRANCO, Cristina - Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014
DIONÍSIO, Sant Anna (coord.) - Guia de Portugal Beira, Beira Litoral, vol. III-Tomo I, 3.ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993
LEAL, Augusto Pinho - Portugal antigo e moderno : diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Vol 1. Lisboa: Mattos Moreira, 1873.

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