Parque Dr. Manuel Braga
Centro | Coimbra
Parque Dr. Manuel Braga
O Parque Manuel Braga localiza-se na margem direita do rio Mondego, a montante da Ponte de Santa Clara, com vista para a margem esquerda do rio, de onde se consegue alcançar os Mosteiros de Santa Clara-a-Velha, Santa Clara-a-Nova e Convento de São Francisco. O nome foi-lhe atribuído em 1955, em homenagem ao Dr. Manuel Braga (1868-1945), grande impulsionador na valorização e na criação de espaços verdes na cidade como a Mata de Vale de Canas, os jardins da Avenida Sá da Bandeira e, em particular, a transformação, na década de 1920, da antiga Ínsua dos Bentos em jardim público.
Este espaço, localizado entre a Avenida Navarro, o rio e o porto dos Bentos, era conhecido por Ínsua dos Bentos. Pertencia ao Colégio de São Bento, construído no século XVI fora da área muralhada da cidade cuja cerca se estendia até ao rio e foi adquirido pela Câmara Municipal em 1888. A Ínsua dos Bentos, cujo nível teve de ser elevado para defender a cidade baixa das cheias, era utilizada pelos habitantes para passeio e prática desportiva. Os aterros foram concluídos em 1911 e na década de 1920, foi transformada em jardim público, ficando encarregue da execução do projeto o jardineiro paisagista Jacintho de Mattos.
A investigação realizada por Teresa Portela Marques (2009) sobre o trabalho desenvolvido pelos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de oitocentos, indica a vasta obra que Jacintho de Mattos deixou na cidade de Coimbra. Refere-se a jardins públicos ou de acesso público que são, para além do Parque Manuel Braga, o Jardim Sá da Bandeira, o Penedo da Saudade e o Parque e Jardim do Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil. A autora desta investigação, ao referir-se às características do Parque Manuel Braga, compara-o com outros parques públicos realizados pelo mesmo jardineiro paisagista, como o Jardim Público de Aveiro, denunciando um estilo próprio. Refere-se concretamente à forte axialidade da composição, ao traçado regular e simétrico do jardim, canteiros relvados que acolhem bordaduras com flores e outras plantas preferenciais de Jacintho de Mattos – designadamente, cedros, sequoias, araucárias, palmeiras, olaias e cicas, e bancos (com conversadeiras e encostos revestidos a azulejos) incluídos no muro de suporte do jardim, junto ao rio, tipologias ornamentais que o jardineiro paisagista irá continuar a desenvolver em muitos dos seus jardins.
Entre 1935 e 1942, durante o Verão, erguia-se uma praia fluvial junto ao jardim, apoiada por estruturas temporárias, como um passadiço de madeira que ligava as duas margens, permitindo o acesso aos bancos de areia formados pelo rio. A utilização recreativa do parque manteve-se, tendo sido utilizado, nas décadas de 1960 a 1990, como palco de festividades da Queima das Fitas, designadas por ‘Noites do Parque’. Tais festividades, entre outras, contribuíram para a sua degradação, tendo o Município, em 1999, decidido construir na margem esquerda do Mondego a ‘Praça da Canção’ com o fim de aqui se realizarem todos os eventos festivos da cidade, libertando o Parque Manuel Braga. De seguida, entre 2000 e 2007, o Município procedeu a um programa de reabilitação do parque.
O parque integra diversas estruturas e equipamentos. É exemplo o Coreto, um exemplo da arquitetura do ferro do século XIX e inícios do XX, de decoração Arte Nova, desenhado pelo arquiteto Silva Pinto em 1904 para a Av. Emídio Navarro, que foi transferido para o atual local em 1934. Anos mais tarde, em 1959, foi aprovado um projeto do arquiteto António Portugal para a construção de uma casa de chá no parque. Mais recentemente, em 2007, foi construído o Museu da Água, conhecido pela ‘Casinha do Parque’, que ocupa a antiga estação elevatória e de tratamento de água, criada para abastecimento da rede pública em 1922. Trata-se de outro equipamento do parque concebido pelos arquitetos João Mendes Ribeiro, Alberto Lapa e Paolo Monzo, para retratar a história do abastecimento público de água.
O jardim integra diversos bustos e estátuas em homenagem a figuras públicas. Referimo-nos ao busto em bronze de Dr. Manuel Braga, da autoria do escultor Cabral Antunes, inaugurado a 23 de março de 1958; ao busto em homenagem a Antero de Quental (1842-1891), da autoria do escultor Diogo de Macedo (1889-1959), concebido originalmente para o Jardim da Estrela, em Lisboa, tendo sido oferecida pelo Município de Lisboa em 1958; à estátua de Manuel Alegre (1936-), da autoria do escultor Francisco Simões (1946-), na comemoração dos 40 anos de vida literária do poeta, em 2005; à escultura em homenagem a Florbela Espanca (1894-1930), da autoria do escultor Armando M. (1929-2018), inaugurada a 8 de dezembro de 1994, nas comemorações do 1º centenário do nascimento da poetisa; e, por último, a obra escultórica em homenagem a António Arnaut (1936-2018) pelo seu papel na fundação do Serviço Nacional de Saúde, da autoria do escultor Pedro Figueiredo.
Proteção legal: Inexistente
Inventário: Ana Catarina Antunes em março de 2020
inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO
Parque Dr. Manuel Braga
(consultada em março de 2020)
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=10879
https://www.cm-coimbra.pt/areas/visitar/ver-e-fazer/parques-e-jardins/parque-dr-manuel-braga ??
ALARCÃO, Jorge de - A evolução urbanística de Coimbra: das origens a 1940. Actas do I Colóquio de Geografia de Coimbra, N.º Especial de “Cadernos de Geografia”, 1999.
DIONÍSIO, Sant Anna (coord.) - Guia de Portugal Beira, Beira Litoral, vol. III-Tomo I, 3.ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
MARQUES, T. Portela - Dos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de Oitocentos ao modernismo na arquitectura paisagista em Portugal. Tese de Doutoramento, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, 2009.