Conimbriga
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Conimbriga
Localizadas na freguesia de Condeixa-a-Velha, as ruínas da cidade de Conímbriga constituem um dos mais vastos e diversificados sítios arqueológicos em Portugal. Encontram-se classificadas como Monumento Nacional e incluem o Museu Monográfico de Conímbriga, criado em 1962, onde estão expostos muitos dos artefactos encontrados nas escavações arqueológicas. As ruínas são conhecidas desde o século XVI. No século XIX (1873) deu-se início ao estudo de Conímbriga (tendo sido criados para o efeito, pelo Instituto de Coimbra, uma secção e um Museu de Arqueologia). Ainda no século XIX, em 1899, efetuam-se as primeiras sondagens de vulto, possibilitando o conhecimento da planta do oppidum e os primeiros levantamentos de mosaicos. Os estudos que têm sido efetuados desde o século XIX, juntamente com as escavações arqueológicas realizadas desde 1929, puseram a descoberto apenas uma pequena parte da extensa área da cidade. Com a realização do XI Congresso Internacional de Antropologia e Pré-História, em 1930, o Estado adquiriu os primeiros terrenos e nos anos 1940 e 1950 foram realizadas as primeiras obras de reconstituição e consolidação das ruínas. Em matéria de jardins, em Conimbriga são particularmente notáveis os associados a duas domus aristocráticas: Casa dos Repuxos e Casa de Cantaber em que foram identificados os espaços dos viridarium (jardins de prazer) nos peristilos e os espaços do hortus. Estão também identificadas mais três domus: embora se trate de estruturas mais simplificadas: Casa da Cruz Suástica, Casa dos Esqueletos e Casa de Tancinus.
Trata-se de uma povoação romana que integra estruturas da Época do Ferro e com registos de continuidade ocupacional até ao século V. Após ter sido ocupada pelas tropas romanas, tornou-se um importante centro urbano, na capital da província da Lusitânia, que Hélder Carita (1990) defende que deverá ser olhada como villas duma cidade de província no meio da grande via que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga). Neste conjunto urbano muralhado em cerca de 1500 metros de extensão, foram identificados a praça principal, que integrava o centro político, religioso, económico e social da cidade - o forum -, organizado com templo sobre criptopórtico, basílica paleocristã, cúria e lojas comerciais, como as tabernae, termas, parte do aqueduto e sistema de canalizações. A arquitetura civil desta cidade notabiliza-se pela edificação de insulae (prédios urbanos com mais de um piso, desenvolvidos em torno de um pátio interior), e de domus com peristilum (residência urbana das famílias abastadas da Roma Antiga). Verifica-se, igualmente, que tanto na arquitetura privada como na pública, encontram-se abundantes materiais decorativos, com especial destaque para os notáveis pavimentos de mosaico, escultura e pintura mural.
Para melhor compreendermos a organização em planta da primitiva casa romana, Ilídio Alves de Araújo (1962) esclarece que as suas dependências se distribuíam à volta de um pequeno pátio quadrado ou saguão (atrium), por onde recebiam o ar e a luz. No que se refere às ruínas de Conímbriga, Hélder Carita (1990) refere a complexidade do programa e requinte dos elementos decorativos, o que sugere um elevado nível de sofisticação nos costumes e hábitos habitacionais. E, dá o exemplo dos sistemas de canalização de água com repuxos que ainda hoje se podem observar nos peristilos das villas de Conímbriga e também o seu requintado tratamento com lagos recortados que formam canteiros.
Como referido, destacam-se a Casa dos Repuxos e a Casa de Cantaber, estudadas por Virgílio Correia, coordenador dos trabalhos arqueológicos da cidade romana de Conímbriga entre 1930 e 1944. Correia, juntamente com Maria Reis, no artigo ‘Jardins de Conimbriga: arquitectura e gestão hidráulica’ (2008), ajudam-nos a descrever as suas valiosas particularidades. A Casa dos Repuxos situa-se a norte da porta principal da muralha. Trata-se de uma grande residência aristocrática, cuja construção data do início do século I, tendo sido alvo de uma grande remodelação na primeira metade do século II. Esta casa notável constitui o melhor exemplo da arte do mosaico, da pintura mural e da arquitetura dos jogos de água que se conhece na cidade. O jardim é constituído por um pequeno pátio com um impluvium de planta quadrangular, que preserva a estrutura hidráulica original com mais de quinhentos repuxos. Este tanque, decorado ao centro por um canteiro que forma uma cruz, é rodeado por um magnífico conjunto de mosaicos figurativos com cenas de caça, passagens mitológicas, estações do ano, monstros, aves e animais marinhos. A Casa de Cantaber constitui um dos mais interessantes testemunhos da arquitetura privada de Conimbriga. Esta casa de aparato, a maior da cidade, foi construída no último quartel do século I d. C. sobre outro edifício, tendo a casa sobrevivido até ao abandono da cidade. No interior da casa foi criado um grande jardim, tendo sido convertido em termas privadas. No centro do peristilo foi instalado um tanque de grandes dimensões, decorado com quatro canteiros simétricos que formam uma cruz lobulada, reproduzindo o mesmo esquema utilizado na vizinha Casa dos Repuxos. A reconstrução parcial do percurso das canalizações em chumbo permite supor a existência de repuxos, colocados nos topos dos quatro canteiros.
Proteção legal:
Monumento Nacional - Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136, de 23-06-1910. ZEP; Portaria de 12-11-1971, publicada no DG, II Série, n.º 277, de 25-11-1971 (sem restrições). (Ruínas de Conimbriga)
Monumento Nacional - Decreto n.º 47 508, DG, I Série, n.º 20, de 24-01-1967. (Conjunto dos restos do aqueduto romano de Conímbriga e do castellum de Alcabideque, abrangendo todo o sistema de captação de águas)
Inventário: Ana Catarina Antunes em março de 2020
inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO
Conimbriga
(consultada em março de 2020)
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/itinerarios/jardins-da-cultura/conimbriga-jardins-romanos
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/recursos/cedencia-e-aluguer-de-espacos/aluguer-de-espacos-museu-monografico-de-conimbriga/
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/museus-e-monumentos/rede-portuguesa/m/museu-monografico-de-conimbriga/
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=2710
ARAÚJO, Ilídio Alves de (1962) Arte Paisagística e Arte dos Jardins em Portugal, Volume 1, Lisboa, 1962, pp. 27-30
CARITA, Helder (1990). Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal ou da originalidade e desaires desta arte. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 19
REIS, Maria Pilar e CORREIA Virgílio Hipólito Correia (2008). Jardins de Conimbriga: arquitectura e gestão hidráulica. Coimbra: Museu Monográfico de Conímbriga