Palácio e jardim do Morgado
Centro | Arruda dos Vinhos
Palácio e jardim do Morgado
O Jardim do Palácio do Morgado encontra-se no centro histórico da Vila de Arruda dos Vinhos, a cerca de 37 km de Lisboa, localizado na margem direita da ribeira das Cachoeiras. Este núcleo preserva ainda vários elementos arquitetónicos de traça original, como a Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos (construída no século XIX como escola Conde Ferreira) e o Chafariz Pombalino, no Largo Miguel Bombarda, junto ao palácio. Atualmente, no palácio está instalado o Centro Cultural do Morgado.
O palácio e seu jardim eram partes constituintes de uma antiga propriedade agrícola designada Quinta do Morgado que não subsistiu no tempo. O palácio, de traça tardo barroca, rococó e neoclássica, foi mandado erguer no final do século XVIII, por António Teodoro de Gambôa e Lis, que obteve brasão de armas em 1778, Fidalgo da Casa Real, Capitão-Mor das Ordenanças e Cavaleiro das Ordem de Cristo, casado com Maria Rita do Quintal Souto-Maior, ambos naturais da vila de Arruda dos Vinhos. De acordo com Mónica Ribeiro de Queiroz a autoria do projeto do Palácio do Morgado é atribuída ao arquiteto Mateus Vicente de Oliveira (1706-1785). Isto deve-se ao testemunho de familiares, recolhidos em 1956, que comprovam a ligação entre a família de Mateus Vicente de Oliveira e a família Gambôa e Lis e também devido a variados elementos arquitetónicos existentes no palácio e capela, como o tipo, cor e forma de azulejos e estuque e a inscrição do emblema “M” num dos tetos do Palácio. Segundo a mesma autora, Mateus Vicente de Oliveira, aquando da sua estada em Arruda dos Vinhos por volta de 1780, foi responsável pela reformulação da igreja matriz de Arruda e pelo projeto do chafariz adjacente ao palácio. O Chafariz Pombalino, inaugurado em 1789, quatro anos após a morte do arquiteto, tinha como função fornecer água aos habitantes de Arruda. Mateus Vicente de Oliveira foi um dos principais arquitetos do século XVIII em Portugal, nomeado em 1778 arquiteto supranumerário das Obras dos Paços Reais da Corte, altura em que começou a projetar em Lisboa a sua obra maior a Igreja e Convento de Jesus (vulgarmente designada por Basílica da Estrela), sob o patrocínio da rainha D. Maria I. Foi colaborador direto de João Frederico Ludovice nas obras de construção do Palácio-Convento de Mafra, para além de estar associado a obras no Palácio de Queluz, na Igreja da Memória, entre outras. A propriedade do Palácio do Morgado, aquando da morte de António Teodoro de Gambôa e Lis, foi herdada pelo seu filho primogénito, Bartolomeu de Gambôa e Lis (1788-1870), 1º barão da Arruda (decreto da rainha D. Maria II de 1845). Este, tal como seu pai, foi Cavaleiro e Comendador da Ordem de Cristo, Cavaleiro-fidalgo da Casa Real e Coronel do Regimento da Milícias de Soure e foi casado com Maria Joaquina de Gambôa e Lis (1777-1861), sua prima. O neto de António Teodoro de Gambôa e Lis, Francisco de Assis de Gambôa e Lis, por não ter herdeiros, deixou a quinta em testamento a José Vaz Monteiro (1820-1890), médico e amigo da família, casado com Amélia Augusta de Sousa de Aguiar (1836-1918). Foi aos herdeiros deste último que o Município de Arruda dos Vinhos adquiriu o Palácio do Morgado, no início do século XXI, com o intuito da sua adaptação a Centro Cultural do Morgado.
O palácio conta com uma estrutura de dois andares e uma fachada brasonada diretamente sobre a rua. A capela contígua ao palácio, que possui a datação de 1781, é de nave única e possui igualmente ligação direta à rua. Detém um importante espólio de azulejos do século XVIII, de cor azul e branca, tal como no interior do palacete e também no jardim. A Quinta do Morgado que já não conta com a extensa área agrícola, possui fora dos limites atuais, num parque de estacionamento a oeste, um pombal, testemunho físico da mesma. Com as sucessivas alterações na sua limitação e utilização, e de modo a dinamizar o local enquanto espaço cultural, foi aberto um acesso ao jardim em 2014, na Rua Cândido dos Reis.
Ao passar pelo portão da referida entrada, sobe-se umas escadas que dão acesso ao jardim, que está disposto sobre dois patamares, um inferior ao outro. Neste primeiro espaço existe uma escada em leque, de apenas um vão, que dá acesso a um pequeno terraço murado com bancos, ao nível do andar nobre do palácio. Como espaço cultural, possui junto à mesma uma escultura acompanhada de uma pintura dum verso de Irene Lisboa, escritora natural de Arruda dos Vinhos. Em frente a esta escada, um caminho define o eixo central que atravessa cerca de metade do patamar inferior e, ao longo do qual, se encontram dois pequenos lagos. A pontuar o início do eixo existem dois cedros de grandes dimensões, um cedro-dos-Himalaias (Cedrus deodora) e um cedro-do-Atlas (Cedrus atlantica), rodeados de buxo, que predomina no espaço, em conjugação com outras espécies como cameleiras, laranjeiras, oleandros, entre outras. Ao centro da fachada da casa rural da mesma época, a sul do palácio, existe uma pequena fonte com embrechados que pontua o fim do eixo deste patamar. Paralelamente a este eixo, ao longo do muro limitante da propriedade existem duas namoradeiras associadas a uma janela gradeada para o exterior. Este primeiro patamar está separado do seguinte, mais elevado, por um pequeno murete com bancos, que se ligam por meio de uma estreita passagem em degraus. No entanto, este também pode ser acedido por uma entrada junto ao Chafariz Pombalino. No patamar superior encontra-se um desenho geométrico de buxo com quatro eixos transversais e três longitudinais. No eixo que se encontra no seguimento das escadas de acesso existe um exemplar notável de cipreste-da-Califórnia (Cupressus macrocarpa). No eixo central deste patamar existe um acesso por meio de escadas a um terreiro calcetado, num nível inferior, que possui atualmente uma esplanada.
O Centro Cultural do Morgado insere-se no complexo que engloba o solar setecentista, o jardim e a casa de cariz rural, e aqui foi estabelecida a Biblioteca Municipal Irene Lisboa (no primeiro andar do solar, antigo andar nobre onde se situavam os quartos e os salões), o Centro de Interpretação das Linhas de Torres, o Posto de Turismo, a Galeria Municipal, o Auditório Municipal, a Oficina do Artesão e Serviço Educativo e Cultural.
Imóvel de Interesse Público / Portaria n.º 1035/2005, DR, 2.ª série, n.º 206, de 26 outubro 2005 (Chafariz Pombalino)
Inventário: Filipa Santos e Sónia Talhé Azambuja (março de 2020)
Palácio e jardim do Morgado
(consultada em março de 2020)
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