Parque D. Carlos I ou Parque das Termas
Centro | Caldas da Rainha
Parque D. Carlos I ou Parque das Termas
O Parque D. Carlos I é hoje um parque público no centro da cidade das Caldas da Rainha que está intimamente ligado à descoberta em 1487 do poder curativo das águas que brotavam no sítio da Copa, no caminho que ligava Óbidos à Batalha, e à rainha D. Leonor que fundou a cidade a partir da construção do Hospital Termal em funcionamento até aos nossos dias. Foi antecedido pelo Passeio da Copa construído nos finais do século XVIII e inaugurado em 1892.
A rainha D. Leonor, mulher do rei D. João II, fundadora das Misericórdias e promotora da construção de hospitais, ordenou erigir um padrão comemorativo e um hospital, para o que ‘applicou todas as suas rendas, e até vendeu, para isto, a seu irmão, o rei D. Manuel, todas as suas joias.’ Fundou também a igreja de Nossa Senhora do Pópulo e instituiu a Confraria de Nossa Senhora do Pópulo. No século XVIII, a mando de D. João V, o hospital foi reconstruído e ampliado pelo arquiteto Manuel da Maia, autor da obra do Aqueduto das Águas Livres, e surgiu pela primeira vez a ideia de afetação de um terreno para recreio dos doentes. No reinado de seu filho, D. José I, em 1775, a administração do hospital foi retirada aos frades loios (cónegos seculares de S. João Evangelista), ficando a sua gestão por conta do governo. Em 1799, foi criado o Passeio da Copa em frente ao hospital. Este espaço, de forma aproximadamente retangular, numa composição axial e simétrica destinava-se ao passeio e convalescença dos doentes. Anos mais tarde, em 1886, este passeio foi elogiado pelo escritor Ramalho Ortigão que, no levantamento que fez em 1875 sobre os locais onde a água termal era conhecida e utilizada em Portugal - ‘Banhos de Caldas e Aguas Mineraes’ - referiu: ’Há dois passeios lindíssimos: o da Copa, onde os doentes passeiam ordinariamente as águas à sombra de velhos plátanos e faias seculares, e o da Matta, que é ao fim da tarde o logar aprasado ao encontro de todos os banhistas.’
No final do século XIX, vivia-se uma época de ouro nas termas portuguesas e as Caldas da Rainha ganharam o estatuto de ‘termas da moda’, oferecendo diversas distrações e atividades sociais que eram tão ou mais importante que os tratamentos. A ‘ida a banhos’ dos elementos da família real, que marcaram presença na vila a partir do último quartel do século XIX, para isso muito contribuiu constituindo um claro fator de prestígio de atracão para o termalismo caldense. Destacamos a presença de D. Carlos I, o monarca que mais vezes visitou a vila e que com esta estabeleceu uma relação mais próxima e empática, cuja homenagem foi consumada na atribuição do seu nome ao parque.
Contudo, a necessidade de reforma na estrutura termal caldense era já sentida há muito tempo, uma vez que as últimas grandes renovações tinham sido feitas por D. João V, quando reformou o Hospital. Assim, as instalações termais das Caldas começaram, a partir do último quartel do século XIX a modernizar-se e a providenciar um melhor serviço e mais diversificado dando resposta às exigências dos banhistas, que reclamavam mais inovações e mais locais de entretenimento. Em 1889, ficou identificada a prioridade de transformar o Passeio da Copa num parque. Para tal, foi chamado para coordenação deste projeto e direção do Hospital Termal, Rodrigo Maria Berquó (1839-1896), formado em arquitetura e engenharia, que tinha coordenado o projeto das termas das Caldas da Felgueira. Berquó, para além de administrador do Hospital Termal (1888-1896), foi também presidente da Câmara das Caldas da Rainha (1890-1891). Nestas duas funções, algumas das iniciativas que promoveu, como a modernização e ampliação em todo o complexo gerido pelo Hospital, contribuíram decisivamente para o desenvolvimento das atividades turísticas que se verificaram nas décadas seguintes. Salientamos aqui o desejo que tinha de transformar o Passeio da Copa num parque inglês de modo a tornar o Hospital Termal mais competitivo, à semelhança das grandes estâncias termais da Europa.
Em junho de 1892, o parque foi inaugurado, recebendo o nome de Parque D. Carlos I, como já referido. Nesse mesmo ano, foi aprovado oficialmente o projeto do novo Hospital Termal, que hoje conhecemos como Pavilhões do Parque e que compreendem sete pavilhões, originalmente destinados a enfermarias, mas que nunca funcionaram como tal. No século XX, a utilização original do Parque D. Carlos I foi-se perdendo, verificando-se ao longo dos anos, a instalação de novos equipamentos recreativos e edifícios museológicos. É o caso do Museu José Malhoa, inaugurado em 1940, da autoria do arquiteto Paulino Montez, que projetou também o jardim formal envolvente, uma pérgula e um roseiral. Uma década depois, entre 1951 e 1954, o arquiteto paisagista Francisco Caldeira Cabral, desenvolveu um projeto para o Parque D. Carlos I, obra a que regressaria na década de 1980. Do seu projeto assinala-se a transformação do muro de suporte da margem do lago numa solução mais naturalizada. Em 1961, Horácio Eliseu realiza um anteprojeto para a mata do Parque, com vista à instalação de um parque de campismo e anos mais tarde, já no início da década de 2000, o engenheiro João Caldeira Cabral, na qualidade de consultor técnico da Administração do Centro Hospitalar para os assuntos do Parque e Mata, é autor de ações de plantações das margens do lago e limpeza de espécies invasoras do parque, entre outras. Já mais recentemente, em 2016, os pavilhões do parque integraram a lista de 30 imóveis a concessionar pelo Estado Português a privados, para instalação de unidades hoteleiras.
O Parque D. Carlos I tem origem no século XVIII, no Passeio da Copa, como referido, tendo sofrido um conjunto diverso de transformações ao longo dos anos. Hoje, encontra-se delimitado por um gradeamento com 7 entradas e apresenta caraterísticas de jardim formal articuladas com zonas de traçado mais naturalizado. O parque divide-se em três zonas. Na primeira zona concentram-se os equipamentos e infraestruturas do jardim, designadamente, os cortes de ténis e respetiva casa de apoio, um parque infantil, uma casa de chá, um coreto oitocentista, um lago onde circulam barcos em redor de uma ilha artificial, a Casa dos Barcos e o Museu José Malhoa, que ocupa uma posição central no parque. Em frente ao museu, foi localizado um busto em homenagem a Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), ceramista com uma forte ligação à cidade pela produção da conhecida louça artística na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. A segunda zona ocupa principalmente a área sudeste do parque, entre a loja da fábrica Bordallo Pinheiro e o Campo da Quinta da Boneca. A terceira zona corresponde à Mata D. Leonor que ocupa cerca de um quanto da área total do parque.
O parque é particularmente rico em esculturas e placas comemorativas. Para além do busto em homenagem a Rafael Bordalo Pinheiro, já referido, encontram-se também no parque uma placa de homenagem a Rodrigo Maria Berquó, da iniciativa do Hospital Termal das Caldas da Rainha, inaugurado em 1996; uma estátua de Ramalho Ortigão, da autoria de Leopoldo de Almeida; um busto de homenagem a António Montez (1896-1967), fundador e diretor do Museu Malhôa, inaugurado em 1959; um busto de Silva Porto (1850-18993), da autoria de Salvador Barata Feyo; uma homenagem aos que contribuíram para a elevação da Caldas da Rainha a cidade, em 26 de agosto de 1927; e diversas esculturas em bronze, como ‘Ternura’, da autoria de Henrique Moreira e uma escultura de duas crianças, denominada ‘Grupo Decorativo’, do escultor Leopoldo de Almeida.
Proteção:
Em Vias de Classificação
Parcialmente Incluído na Zona de Proteção do Museu de José Malhoa e no Museu da Cerâmica, antigo Palacete Visconde de Sacavém, e jardim envolvente.
Inventário: Ana Catarina Antunes em março de 2020
inserido na ROTA DO LITORAL CENTRO
Parque D. Carlos I ou Parque das Termas
(consultada em março de 2020)
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=22171
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/4032391
ANDRESEN, T. - Francisco Caldeira Cabral. Reigate: LDT Monographs, 2001.
ANDRESEN, T. et al. - Três décadas da Arquitectura Paisagista em Portugal (1940-1970). In: T. Andresen, ed. Do Estádio Nacional ao Jardim da Gulbenkian. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
FEIO, C. - Os Pavilhões do Parque (Caldas da Rainha) e a problemática da sua conservação, 2010.
HIPÓLITO, R. - O turismo nas Caldas da Rainha do século XIX para o século XX (1875-1936). Tese de Mestrado, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, 2014.
https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/9233/1/Ricardo%20Hipólito%20-%20O%20turismo%20nas%20Caldas%20da%20Rainha%20do%20século%20XIX%20para%20o%20século%20XX%20%281875-1936%29.pdf
LEAL, A. Pinho - Portugal antigo e moderno : diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Vol 1. Lisboa: Mattos Moreira, 1873.
ORTIGÃO, R. Banhos de Caldas e Aguas Mineraes. Porto: Livraria Universal, 1875.