Cerca e Mosteiro de Sto. António do Varatojo

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Cerca e Mosteiro de Sto. António do Varatojo

A Cerca do Convento de Santo António de Varatojo encontra-se no limite da aldeia de Varatojo, a cerca de 4 km de Torres Vedras. Fica situada numa colina exposta a norte e tem uma área murada de cerca de 4 ha. Segundo contos populares, é referido que este possui tal designação – Varatojo - por ter tido em determinada época, tojos com troncos muito altos e largos que serviriam para produzir varas posteriormente utilizadas nos lagares.

Trata-se de um convento franciscano pertencente à Ordem dos Frades Menores fundada por São Francisco de Assis, aprovada em 1209 pelo Papa Inocêncio III. É uma comunidade religiosa masculina que tem por base os votos de castidade, pobreza e obediência perante Deus. A saudação franciscana “Paz e Bem” evoca a missão dos franciscanos: promover a paz e o diálogo em prol do bem por todo o mundo.

O Convento de Santo António de Varatojo foi mandado erguer pelo rei D. Afonso V (1432-1481), devido a uma promessa a Santo António (1195?-1231), a quem era devoto pelas conquistas em África. A sua construção, no lugar de uma quinta comprada a Luís Gonçalves, escudeiro do rei D. Pedro de Aragão, foi iniciada em 1470 com a colocação da primeira pedra no local da igreja pelo próprio monarca e foi deixada a cargo do vedor da rainha D. Leonor, Diogo Gonçalves Lobo (1447-?). Dois anos após o início da construção do convento, a 21 de agosto de 1472, este recebeu a bula papal por parte de Sisto IV e a 4 de outubro de 1474, apesar de ainda não estar concluído, recebeu o Vigário Provincial Padre Frei João da Póvoa e os primeiros 13 elementos da comunidade franciscana a povoar o local, vindos do Convento de Alenquer. O rei D. Afonso V, benemérito do convento, tinha seus próprios aposentos no mesmo e nele fazia os seus retiros. Em 1503, o convento sofreu uma modificação e surgiu como Casa de Noviciado, o que levou a um aumento nos anos seguintes do número de religiosos, que atingiu os 54. Isto fez com que, já no reinado de D. João III (1502-1557), fossem acrescentados ao complexo arquitetónico os dormitórios e enfermaria e também a sua mulher, a rainha D. Catarina, mandou reformar a Capela-mor da igreja. Decorria o ano de 1531 quando um sismo abalou a região de Lisboa levando a uma destruição quase total do convento, que nos anos seguintes foi objeto de trabalhos de reconstrução. Em 1680 voltou a sofrer uma reforma, tornando-se este lugar o Seminário de Varatojo, entregue a Frei António das Chagas, e respondendo de forma direta à Ordem dos Frades Menores e, consequentemente, ao Ministro Geral Franciscano. Apesar das sucessivas alterações, foi no século XVIII que surgiram as maiores modificações no espaço. Entre 1739 e 1743, foram construídas novas estruturas de apoio aos moradores do convento de apoio ao noviciado. Em 1740, foi construída a Capela de Nossa Senhora das Dores e, em 1777, a Capela da Nossa Senhora do Sobreiro. Junto à mina de água existente no interior da cerca, foi construída uma fonte em 1742, a mando do D. Fr. João do Nascimento (1684-1753), bispo do Funchal, pelo que ficou intitulada como Fonte do Bispo. Foram feitas alterações na capela-mor da autoria de João Antunes (1643-1712), com o acrescento do retábulo, escultura de Cristo de Manuel Dias, revestimento de azulejos atribuídos a Policarpo de Oliveira Bernardes (1695-1778), pavimentos e também da teia de mármore. Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, os religiosos são obrigados a partir, deixando o convento ao abandono, que assim ficou por 9 anos, até ser comprado em hasta pública pelo barão da Torre de Moncorvo. Foi apenas em 1861 que o convento voltou a estar na posse de frades franciscanos após a compra por parte do Padre Frei Joaquim do Espírito Santo. Entre 1903 e 1906, foi construído o 2º andar sobre o núcleo do convento, como era desejado por D. João III. No entanto, pouco depois da conclusão do mesmo, com a implantação da República em outubro de 1910, os religiosos viram-se novamente obrigados a abandonar o convento. Após 18 anos, em 1928, os frades das Missões Franciscanas Portuguesas conseguiram reaver a cerca e o convento de Santo António de Varatojo, que hoje o possuem e habitam, com as mesmas funções que possuía em 1470, mantendo os seus costumes e tradições.

A cerca conventual é apenas acessível pelas dependências monásticas ou por um portão de acesso no limite este. Ao chegar ao adro do convento, disposto segundo patamares murados interligados por rampas e escadas, encontramos no último patamar uma pequena fonte pública alimentada por uma mina no interior da cerca. É neste local que se consegue ter uma visão clara, tanto da entrada como também da janela em destaque do lado direito, que corresponde aos aposentos do rei D. Afonso V e onde daria esmolas aos mais necessitados. Este último patamar liga-se à entrada do próprio convento por uma escadaria ornamentada por azulejos até ao portão de ferro forjado. Ao passar este portão encontra-se um átrio, com teto revestido a azulejo mudéjar, com a porta de entrada para a Capela de Nossa Senhora do Sobreiro do lado esquerdo e do lado direito a porta ogival da igreja primitiva do convento. É junto a esta que se encontra a insígnia do rei D. Afonso V (um rodízio com a corda do hábito dos frades franciscanos) e o brasão de armas de Portugal. Em frente encontra-se a entrada para o interior do convento, em que para se entrar tem de se tocar o sino. Aqui, é-se encaminhado para uma pequena sala de passagem até ao claustro, núcleo do convento.

O claustro quatrocentista, de estilo gótico, apresenta estrutura quadripartida, com quatro canteiros elevados em alegretes, um poço no seu centro e um canal, em todo o perímetro do mesmo, que permitia capturar água do reservatório que existe sob o claustro. Aqui, encontra-se uma glicínia (Wisteria sinensis) secular que marca e faz deste um lugar distinto, juntamente com as colunas com arco em ogiva em toda a volta do claustro, nas quais esta se assenta. Em redor do claustro e sob o teto pintado com o rodízio de D. Afonso V, existe a Sala do Capítulo, um nicho com a imagem de Santo António, um portal manuelino que dá acesso ao jazigo dos alcaides-mores de Torres Vedras. No piso superior encontram-se os aposentos dos frades franciscanos e o acesso lateral à capela-mor. Ao sair deste pela fachada oeste, encontra-se um caminho um caminho largo em frente, que percorre centralmente em linha reta a horta e pomares, dispostos em patamares no sentido do declive natural da encosta. Do lado esquerdo deste caminho situa-se a antiga vacaria e, num patamar superior com uma cultura de nogueiras do lado direito, uma área de horta e ao fundo deste caminho encontra-se uma rampa de acesso ao núcleo da mata secular, que possui variadas espécies de carvalhos (Quercus coccifera e Quercus faginea), medronheiros (Arbutus unedo), loureiros (Laurus nobilis) e sobreiros (Quercus suber). Subindo esta rampa existe a pequena e singela capela que assinala o local onde se deu o milagre da Nossa Senhora do Sobreiro. Local este que tinha um sobreiro, no qual foi escondida uma imagem da Virgem Santíssima na sua cavidade e encontrada em 1474, ano em que os frades começaram a habitar o convento. Esta imagem foi posteriormente colocada na Capela da Nossa Senhora do Sobreiro, no ano de 1779. Ao continuar a subir tal caminho, com rampas e escadas, encontra-se do lado esquerdo o antigo forno de cal, que foi utilizado na própria construção do convento, e posteriormente convertido em capela do Senhor Ecce Homo, com três pequenas grutas com embrechados. Este caminho continua a subir ao longo da encosta, e ao percorrê-lo encontra-se no seu cimo uma terceira capelinha, com uma figura de S. Francisco, e toda ela ladrilhada com azulejos do séc. XVIII, e de onde, segundo várias descrições, é possível observar as margens do rio Sizandro até ao mar. O percurso continua ao longo do muro limitativo da cerca e no ponto mais alto, junto ao limite sul, existe a Capela de Nossa Senhora de Lurdes e a Fonte do Carneiro, que é também uma mina que alimenta o resto da cerca. Daqui, e descendo até junto das hortas, existe outra mina do lado direito com um caminho que liga esta à Fonte do Bispo. Toda a cerca possui um engenhoso sistema hidráulico, que interliga, por meio da gravidade, minas, caleiras, tanques de abastecimento de água às hortas, pomares e fontes. A Fonte do Bispo está ligada, por meio de caleiras, a um tanque do lado norte do convento, junto à antiga escola primária, que rega um pomar de citrinos, macieiras, pereiras e nogueiras. Este pomar estende-se até ao limite norte da cerca, onde existiria um grande tanque para fins recreativos e de banhos, e que foi transformado num laranjal em 1786. Os franciscanos continuam a habitar o Convento de Santo António de Varatojo, sendo que permanecem neste lugar 501 anos dos seus 550 anos de história (1470-2020).

Monumento Nacional / Decreto de 16-06-1910, DG, I Série, n.º 136, de 23-06-1910 (mosteiro)

Inventário: Filipa Santos e Sónia Talhé Azambuja (março de 2020)

Cerca e Mosteiro de Sto. António do Varatojo

(consultada em março de 2020)
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